As importações avançam a um ritmo forte neste ano, crescendo a uma velocidade muito superior à da demanda interna. No primeiro semestre, o volume total importado cresceu 42,1% em relação à primeira metade de 2009, o equivalente a 3,6 vezes a taxa de expansão da demanda doméstica no período, estimada em 11,8% pelo J. P. Morgan.
É uma proporção bem maior que as 2,5 vezes de 2008, quando a economia também registrou um crescimento expressivo. Naquele ano, a importação cresceu 17,7% e a demanda doméstica - o conjunto formado pelo consumo das famílias, consumo do governo, investimento e variação de estoques -, 7%.
Segundo analistas, a velocidade das importações é de fato muito forte, estimulada pela atividade interna e pelo câmbio valorizado, mas é bastante influenciada pela fraca base de comparação.
Em 2009, o volume importado recuou 16,9%, lembra o economista-chefe da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex), Fernando Ribeiro. "Foi uma queda também mais forte do que sugeria o comportamento da economia." Em 2009, a demanda doméstica caiu 0,3%. Para Ribeiro, não há sinais de que esteja em curso uma mudança de padrão da resposta das importações à atividade econômica.
A proporção entre o crescimento das compras externas e o da demanda doméstica no primeiro semestre deste ano também não é inédita nesta década. Em 2004, o volume importado subiu 18,1%, equivalente a 3,6 vezes o ritmo da absorção doméstica, de 5%. O salto do volume importado também se deu sobre uma base deprimida, já que as compras externas haviam recuado 16,2% no acumulado de 2002 e 2003.
Mas uma alta superior a 40% do volume importado não é alta demais? O economista Júlio Callegari, do J. P. Morgan, diz que o número é realmente expressivo, mas observa que a taxa de expansão da demanda doméstica, superior a dois dígitos, também é muito significativa. Mesmo em 2008, quando a economia estava muito aquecida, o crescimento mais forte do ano foram os 9,5% do terceiro trimestre.
Para Callegari, o aumento das importações é hoje mais uma complementação da oferta do que uma substituição da produção doméstica. Um sinal disso é que, mesmo com as importações em alta, a indústria local cresce a um ritmo forte. No segundo trimestre, porém, houve alguma desaceleração da expansão da produção industrial, enquanto as importações cresceram mais intensamente, nos dois casos na comparação com o mesmo período do ano anterior. A indústria avançou 14,2% de abril a junho, menos que os 18,2% dos três meses anteriores, ao passo que o volume importado aumentou 37,8% no primeiro trimestre e 46,1% no segundo.
Indicadores da Funcex de junho, contudo, sugerem um ritmo mais fraco das importações de bens intermediários (insumos e matérias-primas), bens duráveis e combustíveis. As compras de duráveis aumentaram 48,3% em junho, bem menos que os 70,9% acumulados no primeiro semestre. Já a importação de bens de capital aumentou 58,4% em junho, mais de duas vezes a taxa do primeiro semestre, de 26,1%, um sinal que mostra o empenho das empresas em ampliar a capacidade produtiva.
Com importações crescendo bem mais que a produção local, a participação dos produtos estrangeiros no consumo interno de bens industriais deve continuar a crescer nos próximos trimestres, diz o economista Douglas Uemura, da LCA Consultores. Ele acredita que, depois de atingir o recorde de 18,3% no segundo trimestre, a fatia dos importados vai aumentar menos daqui para frente, dada a atividade mais fraca. Para Uemura, boa parte do aumento das importações é complementação da oferta, mas há exemplos claros de substituição. "No caso de produtos têxteis de baixo valor agregado, há muitas dificuldades para competir com os chineses, por causa do custo", diz ele, citando um setor em que a fatia dos importados cresce bastante.
Segundo Callegari, um ponto importante para os próximos anos é se o investimento em curso na indústria vai aumentar a capacidade de oferta local, a ponto de moderar o avanço rápido da participação dos importados. As empresas têm investido bastante, como mostram as previsões de uma alta de até mais de 20% neste ano para as inversões na construção civil e em máquinas e equipamentos, mas a questão ainda está em aberto, diz ele.
(aspas)
Por : Sergio Lamucci, de São Paulo, para o Jornal “Valor Econômico”, 09/08/2010
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