As exportações brasileiras de madeiras continuam degringolando, e os volumes de compra de seu maior cliente, os Estados Unidos, dificilmente voltarão aos níveis anteriores à crise econômica global, mostra relatório da agência das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO).
Os mercados de produtos florestais estão realmente globalizados, segundo a entidade. Não é mais necessário ter florestas para fazer esse tipo de produto. O maior exemplo disso é a ascensão meteórica da China como grande produtor, consumidor e comerciante, o que já afeta produtores tradicionais de móveis, como a Itália.
O relatório não fornece um valor total do mercado global de produtos florestais. A maior demanda vem da construção civil e da indústria de móveis. Apenas a produção global de móveis alcançou US$ 376 bilhões em 2009 e o comércio internacional, US$ 92 bilhões após retração de 20%.
Depois da queda de 11,6% no consumo global de madeira e produtos de papel em 2009, a expectativa é de modesta recuperação este ano. Mas Ed Pepke, principal autor do relatório, estima que a demanda da construção residencial nos EUA não deve voltar aos níveis pré-crise. Isso afeta o Brasil. Nada menos de 70% da madeira que o país exporta segue ao mercado americano. As exportações do item madeiras (compensados, portas e janelas, folhas serradas, perfilados, painéis de fibra, outros painéis, mas não móveis) caíram de US$ 3,3 bilhões para US$ 1,6 bilhão entre 2007 e 2009.
No caso dos compensados, categoria em que o Brasil é o terceiro maior exportador, atrás da Malásia e Tailândia, as vendas diminuíram 50% em valor desde 2007. Isso em razão da maior demanda interna, valorização do real, concorrência de produtores asiáticos, como China e Indonésia, além de menor quantidade de madeira no rastro de combate ao corte ilegal na Amazônia.
As exportações de portas, janelas e outros produtos caíram 54,7%, de US$ 522 milhões para US$ 236 milhões no período. Mesmo as compras chinesas de perfilados de madeira caíram pela metade. Pequim importa o produto bruto, fabrica móveis e depois os vende para a Europa e EUA. O Brasil não faz a industrialização "porque os chineses não compram", diz Vasco Flandoli, da Associação Brasileira de Produtores e Exportadores de Madeira.
"Estamos perdendo terreno para os asiáticos porque eles cortam tudo de madeira tropical, e aqui é proibido", afirma. "Mas estamos perdendo espaço também na exportação de pinos, que representa 80% do que vendemos. Neste caso, para países como o Chile".
A produção chinesa de produtos florestais alcançou US$ 232 bilhões em 2009, alta de 9,8%, enquanto houve queda de 11,6% globalmente. O avanço chinês foi impulsionado pela maior demanda doméstica, já que as exportações caíram. Em todo caso, o país continuou a importar madeira, principalmente da Europa, para produzir móveis e exportá-los aos mercados industrializados. Só essas vendas renderam US$ 7,6 bilhões em 2009.
Agora, porém, Pequim enfrenta maior concorrência de vizinhos mais competitivos, como Indonésia, Malásia e Vietnã. Companhias da Europa e dos EUA, sob pressão da concorrência chinesa, tendem a aumentar investimentos também na América do Sul para reduzir custos e manter a competitividade.
Além da globalização, o relatório aponta mais três razões para a mudança estrutural no mercado de produtos florestais. Começa com o forte declínio no consumo, produção e comércio, no rastro da recessão global, que leva a fusões, aquisições e fechamento de fábricas num ritmo superior aos ciclos normais de negócios. No setor de papel e celulose, as versões "digitais" erodiram a demanda por papel, por exemplo.
Além disso, políticas de combate a mudanças climáticas têm intensificado o uso de madeira para produzir energia, sendo uma das razões para a alta do preço da mercadoria.
Há o efeito ainda do controle da origem da madeira importada, principalmente nos EUA e na Europa, e que deve atingir China e outros asiáticos. Além de provar que o produto é legal, é preciso atestar critério de sustentabilidade e outras obrigações na cadeia de suprimento, da floresta até a fábrica. Até agora, porém, apenas 9% das florestas foram certificadas, sendo 88% nos países ricos. No Brasil, a certificação cresceu.
Para a FAO, o comércio ilegal de produtos de madeira continua e joga "sombras" no setor florestal. Nesse cenário, Ed Pepke vê chances para o Brasil "ser muito ativo na nova situação do mercado, se controlar as condições exigidas", podendo recuperar vendas no segmento de compensados, por exemplo.
(aspas)
Por : Assis Moreira, de Genebra, para o Jornal “Valor Econômico”, 06/08/2010
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