quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Greves e câmbio fazem múltis rever estratégia para a China

Ásia: Conflitos trabalhistas, porém, não devem provocar fuga de empresas

 

Os conflitos trabalhistas na China estão levando multinacionais a rever suas estratégias de operação, mas é improvável que as levem a migrar seus negócios do país, pois os custos totais devem continuar baixos, dizem executivos.

Uma valorização significativa do yuan também poderá encarecer os custos de produção, porém o crescimento do poder de compra dos chineses será positivo, em mais longo prazo, segundo executivos que conversaram com a Reuters.

Greves nos últimos meses prejudicaram a produção em fábricas na China que suprem grandes empresas estrangeiras, como as montadoras japonesas Toyota e Honda.

A cervejaria dinamarquesa Carlsberg e o conglomerado industrial americano Ingersoll-Rand também foram afetados por greves de uma força de trabalho chinesa mais assertiva - provocando temores de que as companhias multinacionais terão de arcar com custos salariais mais altos, prejudicando os lucros no longo prazo.

"É um item muito importante, que estamos monitorando atentamente", disse Dave Anderson, diretor financeiro da indústria americana Honeywell International.

"O que realmente continua recomendando a China é flexibilidade, o que conta ao escolhermos os melhores lugares do mundo para a indústria de transformação."

Entre as medidas tomadas pelas empresas para atenuar o impacto estão ampliar a proporção de gerentes locais e a substituição de trabalhadores por máquinas, sempre que possível.

"Esse é um problema difícil, mas é uma área coma qual administradores japoneses não tem como lidar", disse Nobuyuki Sugano, chefe de operações chinesas da japonesa Sharp.

"Nossos custos de mão de obra são uma pequena parte de nossos custos totais - matérias-primas são um fator mais importante para nós. Mas, uma vez que os custos de mão de obra estão aumentando, planejamos usar uma produção mais automatizada e semiautomatizada para melhorar a eficiência."

Analistas dizem que os custos trabalhistas, mesmo com as greves, estão em uma tendência ascendente, mas é improvável que tirem a China da posição dominante na exportação de manufaturados, pois os custos de mão de obra continuam a ser uma fração do custo dos produtos lá fabricados.

Os salários na China não devem subir mais de 10% e o impacto nos lucros é considerado mínimo porque os custos salariais representaram apenas 2% dos custos totais de fabricação no país, segundo Yoichi Hojo, diretor financeiro da Honda.

Junzo Nakajima, chefe das operações de TI da Hitachi, maior fabricante japonesa de eletrônicos, disse que os custos de produção na China são um fator para consideração no longo prazo.

"Neste momento, não acredito que subirão em torno de 10% ao ano, por isso é uma questão de médio e longo prazos". O grupo Hitachi tem cerca de 50 a 60 fábricas na China.

Ainda assim, as greves enfatizaram a necessidade de melhorar as relações com o operariado local, disseram os executivos.

"Mudar o funcionamento da cadeia de suprimentos ou qualquer outra coisa não enfrentará a questão fundamental", disse Atsushi Niimi, vice-presidente-executivo da Toyota. "A coisa mais importante que podemos fazer é nos assegurar de que temos um sistema que estimula boa comunicação entre trabalhadores e administração."

Alguns executivos viram as greves como parte do desenvolvimento econômico chinês e disseram que os salários dos operários contribuirão para o consumo de combustível, beneficiando a economia mundial.

"As recentes greves significam que os padrões de vida estão melhorando", disse Nakajima, da Hitachi. "A China teve um papel importante na redução dos custos de produção e também tem sido um grande mercado, mas [os recentes desdobramentos] podem ser vistos como parte do processo mediante o qual o país vai se tornando um mercado mais atraente."

(aspas)

 

Por : Dhara Ranasinghe, Reuters, de Cingapura, para o  Jornal “Valor Econômico”, 18/08/2010

 

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