quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Cresce participação de múltis entre os maiores exportadores

Empresas estrangeiras estão ocupando mais e melhores posições entre as principais exportadoras no país. Além disso, houve uma inversão na lista de produtos mais vendidos. Os artigos da agroindústria desbancaram os do setor automobilístico.

No primeiro semestre deste ano, oito multinacionais despontaram entre as 20 principais empresas exportadoras do país. No ano passado, elas eram somente três, e, em 2008, quatro.

Na lista das maiores exportadoras de 2010, 4 das 8 múltis vendem produtos agrícolas e já existe até uma brincadeira devido a isso. Elas são conhecidas como o "ABCD: ADM, Bunge, Cargill e Dreyfus" -todas são companhias multinacionais que produzem commodities.

Neste ano, a Bunge passou a ocupar a terceira posição, perdendo somente para a Petrobras e a Vale. Em 2009, ela terminou em 19ª lugar, com um faturamento bruto anual de R$ 27,2 bilhões.

Essas empresas multinacionais fazem frente às duas maiores gigantes brasileiras e ultrapassaram as companhias nacionais de alimentos, resultado de fusões incentivadas por recursos do governo.

A BRF-Brasil Foods, fruto de fusão entre Sadia e Perdigão, está no décimo lugar da lista de 2010. A JBS-Friboi, cuja fusão também recebeu ajuda financeira do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), está na 26º posição.

MOTIVOS DO SUCESSO

Para José Augusto de Castro, vice-presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), há dois fatores em favor das multinacionais no país: a facilidade de comprar terras e unidades industriais e um mercado cativo no exterior, principalmente nos países de origem.

Roberto Giannetti, diretor do Departamento de Relações Internacionais da Fiesp, atribui esse cenário à timidez de uma política de estímulo às exportadoras nacionais.

Segundo ele, o ponto crítico contra as empresas brasileiras ocorreu na década de 1980. "Até 1985, havia uma política de comércio exterior que acreditava que valia a pena exportar. De 1985 a 1999 foi um período negro."

Ainda segundo ele, os incentivos retomaram após esse período, mas ficou mais fácil para quem já estava estruturado aproveitar as novas levas de estímulo. Resultado: as tradings brasileiras tornaram-se importadoras.

SEM DIFERENÇA

Há quem não entenda a presença estrangeira como uma ameaça. Fernando Ribeiro, economista-chefe da Funcex (Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior), não acredita que haja muita diferença se uma empresa é nacional ou não.

"Se a empresa está estabelecida aqui, se está ganhando dinheiro, está interessada que a economia do país caminhe bem", diz Ribeiro.

Segundo ele, as multinacionais são até benéficas porque fazem investimentos que as nacionais não têm condições, aumentando a pauta de exportação do país.

Ribeiro afirma ainda que a grande presença das companhias estrangeiras é um sintoma do atual momento de concentração do comércio internacional. Um exemplo é o setor de açúcar e álcool -80% do mercado de exportação de açúcar está tomado por um pequeno grupo de grandes multinacionais.

(aspas)

 

Por : Sofia Fernandes, de Brasília, para o Jornal “Folha de S. Paulo”, 16/08/2010

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