Leia, na íntegra, material produzido pelo Instituto de Estudos para Desenvolvimento Industrial (Iedi)
Os dados divulgados hoje pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) são claros: tanto o crescimento de importações quanto de exportações parecem ter se estabilizado na comparação com o ano anterior (desde abril e maio, respectivamente, considerando a variação da média móvel trimestral), porém o índice relativo às importações é de 50%, enquanto o ritmo de expansão das exportações situa-se entre 25% e 30%. Ou seja, o comércio exterior brasileiro retornou ao padrão vigente antes do efeito-contágio da crise internacional em termos das taxas de crescimento das compras e vendas externas.
Em 2010, contudo, a influência do avanço das quantidades na variação do valor das importações é ainda mais forte. De acordo com os dados da Funcex, no acumulado do primeiro semestre, esse aumento foi de 42,1%, contra uma alta de somente 2,1% dos preços (lembrar que antes da crise os preços das importações também foram “inflados” pelo boom das cotações de algumas commodities, como petróleo e trigo). Em contrapartida, o avanço das exportações decorreu, sobretudo, da alta dos preços (17,6% contra 8,3% das quantidades), reflexo, por sua vez, do aumento dos preços de alguns bens básicos ou semimanufaturados (com destaque para o minério-de-ferro e o aço e seus derivados).
É claro que há um efeito-crescimento interno da economia que puxa as importações, mas os dados anteriormente mencionados parecem mostrar que está em curso uma perigosíssima redução da competitividade do produto fabricado no Brasil, o que afeta sua colocação em mercados externos e torna a compra do produto de fora muito mais atraente do que a aquisição do produto nacional. A tendência parece ser explosiva no sentido de que o superávit de comércio exterior que ainda devemos ter esse ano chegue próximo a zero ou se transforme em déficit nos próximos anos.
Os dados desagregados das exportações e importações trazem evidências dos dois efeitos mencionados acima (crescimento e competitividade). Do lado das vendas externas, o patamar entre 25% e 30% de crescimento do total exportado é o resultado líquido de trajetórias bem heterogêneas das três principais classes de produto. Nos últimos três meses (maio, junho e julho), considerando o mesmo indicador, enquanto as taxas de crescimento das exportações de básicos e semimanufaturados ficaram em torno de 30% e 50%, respectivamente, os bens manufaturados avançaram num ritmo bem inferior (próximo de 20%). Mesmo que esse ritmo seja bem melhor que o registrado no início do ano (em função do melhor desempenho econômico dos nossos parceiros comerciais, sobretudo na América Latina), fica evidente o menor dinamismo dessa classe de produto, que é a mais afetada pelo efeito-competitividade (e cujo desempenho depende menos da variação de preços no mercado internacional).
Do lado das importações, os dois efeitos transparecem na evolução das importações de bens de capital, bens de consumo e bens intermediários. No caso dos bens de capital, o indicador de tendência utilizado mostra uma aceleração progressiva do crescimento das compras externas desde janeiro, na esteira da retomada dos investimentos. Em julho, o índice chegou a 49%, a maior taxa desde setembro de 2008 (exatamente no limiar do efeito-contágio da crise, num momento de forte dinamismo da economia brasileira).
No âmbito dos bens de consumo, a taxa de expansão das importações atingiu um patamar ainda maior (55% em julho, percentual superior ao vigente antes da crise), em função, sobretudo, das importações de bens duráveis, que cresceram num ritmo em torno de 70% entre abril e julho (segundo o mesmo indicador). Nesse período, a desaceleração das importações de automóveis (reflexo do fim do incentivo fiscal) não teve efeito na taxa agregada porque as compras externas tanto dos demais bens duráveis como dos bens não-duráveis aceleraram no mesmo período. Já no grupo matérias-primas e bens intermediários, que respondem por cerca de 46% do total, embora as importações tenham perdido um pouco de ritmo (devido à desaceleração da produção industrial), continuam crescendo a uma taxa elevada (44% em julho, contra 50% em junho e 55% em maio).
Assim, ao que tudo indica, os bens importados tem invadido toda a cadeia industrial, o que é tanto conseqüência da aceleração do crescimento como da perda de competitividade do produto nacional, associada a um conjunto de fatores, dentre os quais o patamar apreciado da taxa de câmbio, a elevada carga tributária, as deficiências da infraestrutura e a insuficiência das fontes de financiamento domésticas (em condições de prazo e custo adequadas).
Resultados Gerais. De acordo com os dados divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), o saldo comercial brasileiro (diferença entre as exportações e as importações), ao longo do mês de julho, foi de US$ 1,35 bilhões, após o superávit comercial de US$ 2,28 bilhões em junho. O saldo médio diário no sétimo mês de 2010 foi de US$ 62 milhões, inferior aos US$ 108 milhões verificados no mês anterior. Em julho de 2010, frente o mesmo mês do ano anterior, o saldo médio diário decresceu 51,3%. Ao fim de julho, o saldo acumulado no ano foi de US$ 9,2 bilhões (US$ 9,2 milhões por dia útil), o que representou um recuo de 45% em relação ao mesmo período de 2009. Cabe destacar que este é o menor saldo comercial registrado pela balança brasileira para um mês de julho e para o primeiro semestre do ano desde 2002.
Exportações. Em julho de 2010, as exportações brasileiras somaram US$ 17,6 bilhões, o equivalente a uma média diária de US$ 803,0 milhões, após o resultado de junho de US$ 17,1 bilhões (US$ 814,0 milhões por dia útil). Na comparação mês/mesmo mês de 2009 houve um avanço de 30,7% da média diária. Semanalmente, o maior média diária foi vista na 1ª semana (01 a 06) quando foram exportados US$ 1,5 bilhões, ou o equivalente a US$ 763 milhões por dia útil. No ano, as exportações acumuladas chegaram a US$ 106,8 bilhões (US$ 737 milhões por dia útil.), valor 27,1% maior que do mesmo período de 2009.
Importações. Ao longo do mês de julho, foram importados US$ 16,3 bilhões, o equivalente a US$ 742 milhões por dia útil. No mês anterior, as importações totalizaram US$ 14,8 bilhões (US$ 705,6 milhões por dia útil). Em relação a julho de 2009, a importação média por dia útil assinalou crescimento expressivo de 51,9%. No ano, as importações acumuladas chegaram a US$ 97,6 bilhões (US$ 673,0 milhões por dia útil.). Em relação à média diária do acumulado no mesmo perído do ano passado, ocorreu expansão de 45,1%.
(aspas)
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