O Brasil é um país agrícola. Todos sabem disso, mas não gostam de assumir o fato, considerando-o depreciativo. A razão é um absoluto mistério para nós, que resolvemos abordar o assunto de frente. Da mesma forma que o fazemos freqüentemente em nossas salas de aula. Seja na graduação ou na pós-graduação, ou cursos técnicos.
Quando falamos em agrícola, queremos dizer tudo aquilo que se refere ao campo, portanto, também à agropecuária, à economia extrativa, etc. Estamos resumindo tudo, para efeitos de facilitação, em agricultura. Entenda-se tudo isso como agronegócio.
Desde sempre, quando se fala que o Brasil é um país agrícola, e que deveria assumir essa condição, temos visto resistências. E percebe-se que isso ocorre porque se considera isso pouco lisonjeiro ao país.
Acreditamos que isso não deveria ser levado dessa maneira, visto que o nosso maravilhoso país – pena ter governo, melhor dizendo, desgoverno (sic) – tem tudo para ser o melhor país do mundo de todos os tempos. Tudo que se procura que um país deve ter de bom ele tem. Tudo que se considera ruim para um país nós não temos. Assim, em termos físicos, é absolutamente imbatível.
Então a resistência, quando analisados todos os pontos que interessam, fica inexplicável. E não precisamos nos reportar ao que são esses pontos, visto serem de amplo conhecimento de todos, e por já terem feito parte de artigos anteriores nossos.
Se nos pusermos a analisar as condições que o país apresenta veremos que o ideal é assumirmos essa condição. É ela que tem feito deste país algo muito melhor, e nem precisamos ir muito longe para vermos isso.
Reportando-nos aos oito anos desta década, percebe-se que a sua importância para o comércio exterior brasileiro é fundamental. Além de nos tornar uma potência agrícola mundial, gera superávits impossíveis sem ela.
Em 2001 tivemos exportações de 58,2 bilhões de dólares norte-americanos, com importações de 55,6 bilhões dos mesmos dólares. Nesse ano o superávit da balança foi de 2,6 bilhões de dólares. O agronegócio representou um superávit de 16 bilhões. A sua exportação foi de 19 bilhões, representando quase 33% das vendas externas. Isso significa que sem esta dinâmica área teríamos apresentado um déficit na balança comercial.
Não satisfeita com isso, a área do agronegócio continuou mostrando o seu valor. Em 2002 nossa exportação situou-se em 60,3 bilhões, tendo a importação sido reduzida drasticamente para 47,2 bilhões, para nossa tristeza. Um país que não importa e não se moderniza, em especial quando precisa importar máquinas e equipamentos para isso, só pode caminhar para trás. Assim, o superávit situou-se em 13,1 bilhões. O agronegócio apresentou superávit de 20 bilhões, superando o geral, com exportação de 24 bilhões. E seu peso subiu para 40%.
E assim continuou em 2003, tendo a balança comercial apresentado superávit de 24,8, com o agronegócio tendo 26 bilhões. Em 2004 superávit geral de 33,7 e o setor do agro com 34 bilhões. Em 2005 novamente superávits respectivos de 44,8 e 38,4 bilhões, tendo 2006 também 46,1 e 42,7 bilhões. Nestes 2 anos o agro ficou pouco abaixo, mas note-se o extraordinário crescimento e sua importância aos nossos negócios internacionais.
Em 2007 nosso superávit geral foi de 40 bilhões e do agronegócio de 49,7 bilhões de dólares. Finalmente, em 2008, veio a consagração final, com o extraordinário superávit de 60 bilhões contra apenas 24,7 bilhões da balança comercial, menos da metade dele. Apresentando exportação de 71,9 e importação de 11,9 bilhões. No geral, nossa exportação foi de 197,9 bilhões de dólares, o que significa que as vendas do agro representaram 36% do total.
Assim, será melhor parar de considerar depreciativa para nosso país a agricultura, pecuária, etc. Para um país que tem o maior território disponível para plantação e pasto do planeta, e único, provavelmente, a poder continuar a mostrar crescimento na área nas próximas décadas, temos que parar de ter vergonha disso.
Costumamos dizer, para comparação, e para ver se mudamos essa mentalidade, que o maior país agrícola do mundo chama-se Estados Unidos da América do Norte, e que não se envergonham disso. Os EUA representam cerca de um quarto da economia mundial, com um PIB de quase 15 trilhões de dólares.
E então Brasil, que tal assumirmos isso de vez? Se sem assumir, sendo envergonhados, somos tudo isso, o que ocorreria assumindo-se a condição?
Já somos os maiores exportares do mundo de frango, carnes, café, suco de laranja e várias outras mercadorias. Podemos ser muito mais, e basta querermos e assumirmos a condição.
Pelo orgulho nacional do país agrícola, pensemos que o mundo tem que comer. E nós também que temos mais de 50 milhões de brasileiros que não o fazem adequadamente.
Claro, sem abandonarmos o desenvolvimento industrial, que apenas ser agrícola não é negócio.
Samir Keedi
Economista, professor, consultor, escritor e autor de vários livros em comércio exterior, entre eles “ABC do comércio exterior - abrindo as primeiras páginas”,
e-mail: samir@aduaneiras.com.br
Um comentário:
concordo com tudo isso, e acho mesmo que temos que assumir que nosso país é agrícola. Sou estudante de engenharia agricola e gosto muito do que faço!
Postar um comentário