Carência é resultado de fatores como o desprestígio da profissão
Depois de amargar a carência de infraestrutura, os transportadores enfrentam agora a falta de mão de obra. Entidades do setor projetam que terão dificuldades para preencher 130 mil novas vagas de motoristas a serem abertas em 2010. A conta reflete a demanda pelos profissionais com a venda estimada de 140 mil caminhões. No Rio Grande do Sul, entre 12 e 13 mil postos ficarão sem candidatos. Pior: o apagão deve marcar os próximos oito anos do setor, quando as aquisições de veículos poderão chegar a 1 milhão de unidades.
Desprestígio da profissão, acidentes e roubos de cargas e maior tecnologia embarcada que exige muito mais que apenas saber dirigir são citados como as grandes causas. A capacitação e formação de novos condutores para cargas não é hoje suficiente para responder à demanda. O presidente do Sindicato das Empresas de Transporte e Logística do Rio Grande do Sul (Setcergs), José Carlos Silvano, adverte que a conta é ainda maior se for computada a geração de vagas que cada caminhão abre. "São quatro postos para cada veículo, entre mecânicos e demais profissionais. Estamos tendo de buscar motorista aposentado para dirigir caminhão mais antigo para deslocar os mais novos para veículos modernos", exemplifica.
O alarme com a falta de pessoal foi acionado na abertura, ontem da 12ª Feira e Congresso de Transporte e Logística (Transpo-Sul), no Centro de Exposições da Federação das Indústrias do Estado (Fiergs), em Porto Alegre, que segue até amanhã. A carência de mão de obra foi colocada em igualdade de importância com as limitações de modais no País, entre elas a existência de apenas 196 mil quilômetros pavimentados entre os 1,1 milhão de quilômetros de rodovias existentes no Brasil. O presidente da Federação das Empresas de Logística e Transporte de Cargas do Estado (Fetransul), Paulo Vicente Caleffi, defendeu maior parceria com montadoras para melhorar a qualificação. Também apontou a informalidade na área como uma barreira à profissionalização. Estudo da consultoria Deloitte dimensionou que R$ 44 bilhões dos R$ 60 bilhões movimentados pelo setor anualmente estão no mercado sem registro.
Na Transportadora Minuano, com sede em Porto Alegre, o déficit de motoristas é de 10% a 15%. O sócio-diretor da empresa, Jaime Kras Borges, diz que há caminhões parados por falta de profissionais. A situação, segundo ele, agravou-se em 2010, devido à retomada do setor. A empresa deve ampliar em 20% a frota hoje de 152 caminhões, somando investimento de R$ 3 milhões. Com isso, o empresário já espera mais dificuldades. "Não adianta aumentar salário, que hoje vai de R$ 2 mil a R$ 2,5 mil. Os jovens não querem ser motoristas. Não existe mais a tradição de passar de pai para filho", lamenta.
O problema, adverte o presidente da seção de cargas da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), Flávio Benatti, é que a formação de motoristas só pode ser feita nos Centros de Formação de Condutores (CFCs). O segmento tenta ampliar as frentes de capacitação, por meio da CNT, o Serviço Social do Transporte (Sest) e Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (Senat). Sem maior oferta de mão de obra, ocorre redução da reciclagem de motoristas em atividade. "Como as empresas precisam transportar as cargas, não há tempo para treinar quem está trabalhando", observa Benatti. As entidades acreditam que é necessário reverter o que chamam de imagem negativa vinculada à profissão, associada a jornadas cansativas, uso de drogas, baixa remuneração, acidentes e infraestrutura de estradas muito deficiente. Está em estudo campanha institucional para melhorar a percepção da sociedade sobre a profissão e para reverter a resistência de novas gerações a assumir o comando do volante.
(aspas)
Por : Patricia Comunello, para o Jornal do Comércio (RS), 30/06
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