Para escapar de tarifa aplicada ao entrar no Brasil, calçado chinês é importado via outros países da Ásia.
Se o crescimento nas vendas de sapatos vindos de países vizinhos à China já acendia um sinal de alerta para a indústria calçadista, agora há outro motivo: as ofertas de empresas que garantem providenciar a logística de um terceiro mercado para a entrada do produto no Brasil. O esquema seria montado para burlar a sobretaxa de importação aplicada pelo governo brasileiro.
Chamado de triangulação, o mecanismo utilizado por exportadores chineses estaria permitindo que o calçado do país asiático entre no território brasileiro sem pagar a tarifa antidumping de US$ 13,85 sobre cada par.
Importadoras brasileiras são assediadas por essas empresas via correio eletrônico. “Nós providenciamos um terceiro país como entreposto logístico via Malásia, Indonésia, Bangladesh, Vietnã e Tailândia. Seja exportação ou importação, nós podemos dar assistência para que você consiga fugir de tarifas antidumping altas”, informa a mensagem recebida por uma empresa gaúcha.
Para o diretor executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Heitor Klein, o e-mail confirma que existe um esquema para driblar a sobretaxa. O dirigente acrescenta que essas empresas estariam “providenciando identidade falsa para produtos fabricados na China”.
Com isso, o calçado sequer teria de passar por um segundo país antes de chegar ao Brasil. Uma pista de que poderia haver algo errado veio dos dados das importações neste ano. Enquanto a China registra queda na venda de calçados ao Brasil de janeiro a maio – de 14,9 milhões de pares para 5,95 milhões –, países que tinham participação inexpressiva, como Malásia e Indonésia, tiveram expressivo crescimento.
Sinal de alerta: aumento nas compras de países da Ásia depois da queda nas importações de calçados na China.
– Não é só porque antes esses países não exportavam, é porque sabemos que não é fácil substituir o fornecedor de uma hora para a outra – explica Klein sobre o motivo da desconfiança.
Quem sai perdendo são as empresas nacionais, observa o presidente da Bibi Calçados, Marlin Kohlrausch:
– Essa ação prejudica muito e diminui o volume de negócios da indústria calçadista.
Ainda que a alta nas importações seja um indício forte, comprovar a existência da triangulação na prática pode ser algo complicado, “até porque são países muito próximos uns dos outros”, diz André Azevedo, coordenador do mestrado em Economia da Unisinos.
– Se estiverem só usando uma distribuidora em um segundo país, sem agregar valor ao produto, isso caracteriza a triangulação. Mas a China tem muita experiência, principalmente para fugir de sobretaxas, porque sofre protecionismo forte em muitos países – explica Azevedo.
O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior informou que nenhuma denúncia foi formalizada pelo setor calçadista. Procurada, a Embaixada da China em Brasília não se pronunciou até sexta-feira à tarde.
(aspas)
Por : Gisele Loeblein , para o Jornal “Zero Hora” , 03/07/2010
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