Comércio exterior: Câmbio favorável e mercado interno aquecido alimentam novos negócios
Quando iniciou suas operações, em 2006, a Hidrodomi, uma fabricante de cloro do interior paulista, fazia compras esporádicas de insumos químicos no exterior. Dois anos depois a empresa passou a importar matéria-prima trimestralmente. O mercado interno aquecido fez aumentar a demanda por cloro da clientela formada por indústrias e estações de tratamento de água. Do ano passado para cá, a Hidrodomi dobrou seu volume de produção. Como resultado, diz Fernando Possetti, diretor-financeiro da empresa, a importação de insumos passou de trimestral em 2009 para mensal em 2010.
Isso fez a empresa rever sua estratégia de compra de insumos. No início do ano, a fabricante de cloro conseguiu uma habilitação que lhe permite importar sem limitação de valor. A habilitação que a empresa tinha anteriormente estabelecia um teto para os valores comprados do exterior.
A Hidrodomi não é um caso isolado. Empresas que antes importavam esporadicamente e agora desembarcam mercadorias originadas do exterior com maior frequência estão engrossando o número de importadores. De janeiro a abril deste ano, 26,47 mil empresas fizeram algum tipo de importação - alta de 15% sobre os 23,02 mil do mesmo período de 2009 e também acima dos 22,54 mil de 2008.
O crescimento do número de empresas não ocorre somente nas faixas de maior valor de importação, formada por empresas que já importavam e passaram a trazer valores ou volumes maiores do exterior. O número de empresas também aumenta nas faixas dos pequenos importadores. A quantidade de firmas que compram até US$ 10 mil, por exemplo, cresceu 12,65% nos primeiros quatro meses do ano, na comparação com o mesmo período de 2009 .
Para Welber Barral, secretário de Comércio Exterior, o aumento dos importadores é resultado de uma taxa de câmbio favorável e um mercado interno aquecido. "Os pequenos exportadores que compravam a cada três meses e passaram a comprar mensalmente, por exemplo, muitas vezes usavam tradings e agora estão fazendo a operação diretamente, entrando como novos importadores."
O aumento da disponibilidade de renda, acredita Barral, tem dado um fôlego especial para a entrada de bens de consumo. "à medida em que há aumento da classe média, cresce a demanda por produtos diferenciados. Há marcas mundiais chegando ao Brasil pela primeira vez. Estão surgindo novos importadores e quem já importava está ampliando o mix de produtos."
Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) corroboram a análise ao mostrar a evolução da quantidade de empresas que desembarcaram produtos como vinho e confecções. De janeiro a maio de 2005, 150 empresas importaram vinho. No mesmo período do ano passado, foram 191 importadores. Em 2010, o número saltou para 233. O valor importado por empresa pulou de US$ 180,5 mil em 2005 para US$ 299,9 mil em 2010.
As confecções também tiveram evolução que salta aos olhos. De janeiro a maio de 2005, 907 empresas trouxeram confecções do exterior. No ano passado foram 1.490 importadores. Neste ano, 1.684. O valor médio de importação de confecções saltou de US$ 125,5 mil por empresa em 2005 para US$ 305,2 mil em 2010.
O fenômeno, porém, diz Barral, não se limita à compra de bens de consumo. O aumento da demanda interna traz elevação da competição, lembra o secretário, o que tem feito as empresas procurarem fornecedores de insumos no exterior. "Cerca de 50% das importações brasileiras são de insumos industriais. Num mercado mais competitivo, é preciso reduzir custo de produção e uma forma de fazê-lo é diminuir o custo dos insumos via importação."
A compra de bens de capital, também pode ter gerado aumento do número de importadores. Esses desembarques também estão sendo impulsionados por preços baixos e mercado interno em crescimento maior que o internacional.
(aspas)
Fonte : Jornal “Valor Econômico”, 14/06/2010
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