segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Produto importado avança no comércio e preocupa setores da indústria

14/09/2009 - 09h09

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FÁTIMA FERNANDES

CLAUDIA ROLLI

da Folha de S.Paulo

 

O crescimento da massa real de salários e o real valorizado aumentaram a oferta de importados no país. A compra de produtos no exterior, como derivados de leite, bebidas, alimentos em conservas, artigos de vestuário e utilidades domésticas, chegou a dobrar em algumas redes de lojas e já preocupa setores da indústria nacional.

 

A importação total de bens de consumo duráveis (carros e eletrônicos) e não duráveis (alimentos) não supera, no acumulado deste ano, a do ano passado, mas está reagindo.

 

Em agosto, a média diária de importações de bens não duráveis atingiu US$ 36,3 milhões, maior que a de julho (US$ 35,3 milhões). No caso de bens duráveis, a importação foi de US$ 48,6 milhões em agosto e de US$ 40,6 milhões em julho.

 

No mês passado, pela primeira vez no ano, a importação de carros de passeio, que totalizou US$ 499 milhões, superou a do mesmo mês do ano anterior (US$ 482 milhões). No acumulado do ano, a compra de carros no exterior ainda é 10,2% menor do que a do ano passado.

 

"Com essa taxa de câmbio e com a renda em alta, a importação de produtos das linhas de duráveis e não duráveis só tende a crescer", diz José Augusto de Castro, vice-presidente da AEB (Associação Brasileira de Comércio Exterior do Brasil).

 

Em agosto, a média diária de importações do Brasil foi da ordem de US$ 512,7 milhões. Nos meses anteriores, girava ao redor de US$ 400 milhões. "Não chegamos ao valor de antes da crise, mas essa é uma questão de tempo." Em agosto de 2008, a importação média diária do país foi de US$ 830,8 milhões.

 

De leite a perfume

 

A compra de alguns produtos no exterior chama a atenção de especialistas. De janeiro a julho, subiu, na comparação com igual período de 2008, a importação de leite e laticínios, vestuário, produtos de perfumaria e limpeza, sucos e conservas, calçados, brinquedos e jogos e produtos farmacêuticos, segundo levantamento da Funcex (Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior).

 

"A demanda por esses produtos não sofreu o impacto da crise, diferentemente do que ocorreu com bens duráveis. Como a renda do consumidor está crescendo e o real está valorizado, a procura por importados, principalmente dos que não dependem de financiamento, foi razoavelmente preservada", afirma Fernando Ribeiro, economista-chefe da Funcex.

 

O Grupo Pão de Açúcar vai dobrar neste ano a importação de produtos da linha Casino (o parceiro francês da empresa), formada por cerca de 200 itens nos setores de massas, biscoitos, temperos, chocolates e produtos enlatados. Também vai ampliar em cerca de um terço a importação de brinquedos, de produtos de bazar (como louças e peças de decoração), em 10% a de vinhos e em 20% a de frutas. Deve manter no nível do ano passado a importação de calçados e artigos de vestuário.

 

"A taxa de câmbio está mais favorável, e o consumidor compra importado quando vê que o produto tem qualidade e é mais barato", diz Sandro Benelli, diretor do Grupo Pão de Açúcar para importação e exportação.

 

A Casa Santa Luiza, em São Paulo, decidiu elevar de 50% para 55% a participação de importados no mix de produtos. 'Com essa taxa de câmbio, fica mais barato comprar alguns itens no exterior', diz o diretor Jorge da Conceição Lopes. Entre esses produtos, estão pêssegos em lata da Argentina, sucos de frutas da África do Sul e derivados de tomate da Itália.

 

Reflexo na indústria

 

"Com o real valorizado, a importação tende a crescer e a indústria nacional vai ter de se virar para competir, pois terá de conviver cada vez mais com mercadorias de fora do país", diz Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados.

 

A indústria têxtil está preocupada com a competição desleal com artigos importados. "A queda do consumo na Europa, no Japão e nos EUA levou países da Ásia a enviar a produção excedente para países como o Brasil. Não temos medo da concorrência, mas não podemos aceitar que a importação a preços muito reduzidos coloque em risco a indústria nacional", diz Fernando Pimentel, diretor superintendente da Abit, associação da indústria têxtil.

 

As indústrias de calçados e de brinquedos também pressionam o governo para intensificar as medidas que possam evitar o encolhimento dos setores.

 

"No terceiro trimestre de 2008, nosso setor empregava 336 mil pessoas. Chegamos a dezembro com 42 mil empregos a menos. Isso ocorreu principalmente devido às importações que tomaram conta do mercado brasileiro", diz Milton Cardoso, presidente da Abicalçados (Associação Brasileira das Indústrias de Calçados).

 

A Abrinq (fabricantes de brinquedos) estima que as importações impeçam, por ano, a criação de ao menos 25 mil vagas com carteira assinada. "O modelo que vem da China pode ser encontrado no Brasil, que tem maior segurança e qualidade", diz Synésio Batista da Costa, presidente da Abrinq.

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