terça-feira, 20 de outubro de 2009

PORTO DE ITAJAI, QUE PENA!

 

Não é incomum sentirmo-nos envergonhados de sermos brasileiros. Ao contrário, nos últimos tempos só temos motivos para nos considerar assim, impotentes diante de tudo que vem acontecendo com o país. E pior, com um velocidade impossível de ser acompanhada, mais parecendo a tecnologia de computadores, cada dia uma novidade ou duas ou mais. Parece que ninguém ou nada mais dará jeito nas constantes mazelas.

 

E, nós da área de comércio exterior, mais ainda agora. Se formos alguém que milita nos transportes, navegação, portos, então, a vergonha é incomensurável.

 

Todos se lembram, com tristeza, do dilúvio que atingiu o belo e próspero estado de Santa Catarina ao final de 2008. E que, literalmente, destruiu parte do porto de Itajaí. Para nós que adoramos aquele porto, e que desde 1975, pela UNEF – União dos Exportadores de Frangos, ajudamos a fazer dele o porto de excelência da exportação de frangos do país, o inconformismo foi maior ainda. E, além de adorarmo-lo, ainda somos muito considerados pelo seu pessoal, em que cada visita nossa é uma festa.

 

Mas, naquele momento, diante das promessas do governo, em especial da SEP – Secretaria de Portos, em que o porto seria rapidamente reconstruído, nos sentimos mais reconfortados. Infelizmente, em vão, acreditamos mais vez. Até para nós, pessoalmente, num evento da Abtra em Santos, nos foi prometido isso quando intercedemos pelo porto.

 

Passados nove meses desde o trágico evento, visitamos o porto em agosto/09, por ocasião de uma viagem para ministrarmos um MBA na Univali. A visita foi com a intenção de vermos como estavam os trabalhos e o renascimento daquele importante porto.

 

Afinal, ninguém desconhece que, mesmo sendo um pequeno porto em tamanho, com apenas quatro berços, tornou-se, com a competência da sua equipe, o segundo maior porto do país em movimentação de containers. Um porto exemplar, cuja transferência ao município, que o administra, mostrou o acerto do afastamento da União de sua administração. O que desejamos também para Santos, conforme artigo recente, mas com transferência para o Estado.

 

Mas, nossa visita foi frustrante, pois ao chegarmos lá, a decepção foi absoluta. Nenhuma palha havia sido movida nos berços destruídos, com exceção da retirada dos entulhos. Uma vergonha, e mais uma vez, tudo ficou só na promessa.

 

Não entendemos como as coisas podem se passar dessa maneira. Nem como se pode tratar dessa forma o porto de frangos mais importante do país, provavelmente do mundo já que somos o maior exportador de penosas do planeta, com 45% do mercado. E o segundo do país em container, posição perdida após o dilúvio.

 

É algo que só nos faz ficar cada vez mais aborrecidos com o ponto a que nosso país chegou. Não entendemos a motivação que nos leva a isso.

 

E estamos falando apenas do porto em si, uma das nossas paixões no comércio exterior, e nem estamos nos referindo, o que fica subentendido, à própria cidade, cujo porto é fundamental ao município, importante pólo gerador de empregos e negócios. A carga de Santa Catarina tem que procurar outros portos, desviando para eles os empregos  dos profissionais de Itajaí.

 

Todos se lembram dos sobrevoos das autoridades sobre o município e o estado e suas promessas vãs que, ingenuamente, esquecendo o histórico do país e dos sucessivos governos, acreditamos, dando-lhes mais um crédito. Crédito apenas para sermos traídos de novo.

 

Será que a Ilha da Fantasia se julga um país independente, e que nenhuma satisfação deve ser dada ao povo que a rodeia, estes mais de 190 milhões de brasileiros que os sustentam? Se é assim que se sentem, por que não geram seus próprios recursos ao invés de tira-los de nós? Será que acreditam que basta dar a pouco mais de 40 milhões de brasileiros a bolsa-esmola, e está tudo resolvido?

 

Até quando suportaremos tudo isso? Até quando? Quando faremos nosso dia do juízo final?

 

Mas, que o governo central fique ciente, e ainda bem, que o povo de Itajaí não esmorece, e a cada crise encontra forças na união de todos para buscar soluções inovadoras e criativas. Neste momento, as entidades de classe que formam a cadeia logística de Itajaí estão buscando, sob a coordenação do porto, as soluções que o Estado apenas promete, mas que o povo tem que achar e fazer. E, com isso, atrair de volta ao porto as cargas e armadores.

 

Samir Keedi

Economista, professor da Aduaneiras e universitário, consultor e autor de diversos livros em comércio exterior, e tradutor do Incoterms 2000.

 

e-mail: Samir@aduaneiras.com.br

Nenhum comentário: