O volume de importação cresceu de modo generalizado e expressivo em setembro, um reflexo da consolidação do crescimento mais forte da economia e da valorização do câmbio. A quantidade total importada aumentou 15% em relação a agosto, na série com ajuste sazonal calculada pela LCA Consultores. Os preços só subiram 0,25% no período. Houve altas significativas nas compras de bens de capital, que subiram 19,6% nessa base de comparação, e de bens intermediários (insumos como produtos químicos, borracha e aço), que avançaram 13%. Foi a quinta alta consecutiva do volume importado de intermediários.
Depois de atingir o fundo do poço em abril, as importações desses bens passaram a avançar a um ritmo bem superior ao da produção doméstica. Entre abril e agosto, as compras no exterior de insumos tiveram alta de 23,1%, feito o ajuste sazonal, enquanto a fabricação interna desses bens aumentou 5% (a produção industrial de setembro ainda não foi divulgada). Quando se inclui o resultado de setembro, o aumento das importações de intermediários em relação ao nível de abril pula para 39,2%, também na série dessazonalizada. É uma alta muito superior à registrada pela produção interna de insumos, que subiu 11,3% entre dezembro do ano passado e agosto deste ano. Esses números sugerem um aumento da fatia dos produtos importados nesse segmento.
O economista Francisco Pessoa, da LCA, acredita que a recuperação da economia é mais importante para explicar o salto das importações do que a valorização do câmbio. Para ele, o fim do processo de ajuste de estoques pode ter exacerbado os números do mês passado, o que tornaria arriscado prever que o ritmo de expansão das compras externas de setembro será mantido daqui para a frente.
Mesmo com essa ressalva, Pessoa diz que a tendência é de que as importações avancem a um ritmo expressivo, dada a combinação de crescimento mais forte e dólar barato. Ele projeta uma alta de 31% do volume importado em 2010 - para este ano, a aposta é de queda de 18%, muito afetada pelo desempenho ruim na primeira metade do ano. A LCA acredita em um crescimento de 5,6% em 2010 que, aliado a um câmbio de R$ 1,65 a
R$ 1,70, vai se traduzir em um avanço significativo das importações, acredita ele.
O professor Ricardo Carneiro, da Unicamp, considera difícil separar o que é efeito da atividade econômica do que é impacto do câmbio no recente aumento das importações. Para ele, os números indicam a clara influência do dólar barato nesse processo. "O câmbio valorizado acelera o ritmo das importações", diz ele. A moeda americana, que virou o ano cotada a R$ 2,34, fechou ontem valendo R$ 1,739.
"Há indicações de que estão em curso substituições de fornecedores locais por externos", afirma Carneiro, para quem o país passa por uma "forma mitigada" de desindustrialização, que se caracteriza por uma especialização maior em setores que produzem recursos naturais e pela perda de adensamento em cadeias produtivas em segmentos mais sofisticados.
Para o estrategista-chefe do BNP Paribas, Alexander Lintz, os setores da indústria que produzem bens comercializáveis internacionalmente (os tradables) têm de conviver com margens mais apertadas. De um lado, essas empresas veem os seus custos com mão de obra crescerem; de outro, enfrentam a concorrência da China. Isso dificulta a vida de quem exporta ou concorre no mercado interno com produtos importados, nota ele.
Para Lintz, as importações vão avançar a um ritmo bem superior ao das exportações, o que fará o setor externo "roubar" parte do crescimento no ano que vem. "Isso será um vento contra para o crescimento em 2010", afirma ele, que projeta uma expansão do Produto Interno Bruto (PIB) de 4%, abaixo dos 4,8% que aparecem na pesquisa semanal do Banco Central (BC) junto a cerca de cem instituições.
O volume importado de bens de consumo duráveis (como automóveis e eletroeletrônicos) tem avançado a um ritmo menos intenso do que o de bens intermediários, por exemplo. Em setembro, as compras externas de duráveis avançaram 5,2% em relação a agosto, feito o ajuste sazonal. Foi a segunda alta seguida - no mês anterior, o aumento tinha sido de 7,3%. Com a proximidade das festas do fim do ano é possível que esse número aumente nos próximos meses.
No setor de máquinas e equipamentos, o temor é de perda de mercado para os produtores chineses, que contam com um câmbio muito mais favorável, como diz Luiz Aubert Neto, presidente da Abimaq (a associação da indústria do segmento). "O governo precisa defender o real como se defendem as fronteiras do país", diz ele. Segundo Aubert, há empresas de menor porte que se transformam em importadoras, vitimadas pelo câmbio valorizado. "No nosso segmento, um dólar abaixo de R$ 2 é extremamente nocivo".
(aspas)
Por : Sérgio Lanucci, para o Jornal “Valor Econômico”, edição de 27/10/2009
Rogerio Zarattini Chebabi
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