A exportação recorde de açúcar pelo porto de Santos, no litoral paulista, o maior do país, causou um estrangulamento das operações em terra e no mar. Os caminhões do interior carregados com açúcar em sacos ou a granel (solto na caçamba) demoram pelo menos o triplo do que deveriam para descarregar suas cargas nos navios.
Os caminhões deveriam fazer a operação toda em três a quatro horas, mas chegam a bater em 12 horas ou até 36 horas em casos extremos.
O resultado foi uma fila de 116 navios ancorados em frente às praias de Santos, segundo a Codesp (Companhia Docas do Estado de São Paulo), estatal que administra o terminal.
Navios parados por ali fazem parte da paisagem, mas não nessa grandeza. O normal seriam 10 a 15 embarcações. Até das praias da vizinha cidade do Guarujá, era possível ver o congestionamento de navios, o que é mais raro.
O prejuízo de um navio parado é grande. Por dia, o custo vai de US$ 20 mil (navios para transporte de açúcar em sacos) até US$ 90 mil, nas grandes embarcações que levam o produto a granel, estima José Roque, presidente do sindicato das agências de navegação (Sindamar), que representam os donos dos navios.
Empresários e autoridades da área portuária têm diferentes explicações para a lentidão: excesso de açúcar, muita chuva, falta de infraestrutura viária, planejamento errado e escassez de trabalhadores. Para um especialista, há um apagão no porto.
A Codesp diz que o embarque de açúcar está sendo recorde neste ano porque outros países produtores não tiveram uma safra boa, e o mundo recorreu ao Brasil.
“As usinas de açúcar estão produzindo rapidamente. Houve uma concentração de navios num período muito curto”, diz Paulino Moreira da Silva Vicente, diretor de Infraestrutura da Codesp.
No ano passado, foram exportados por Santos 16,9 milhões de toneladas de açúcar. A estimativa para este ano é de 21,5 milhões, um aumento de 27%.
Além disso, Vicente diz que as chuvas foram determinantes. O açúcar, solto ou em saco, não pode se molhar. Com qualquer garoa, os porões dos navios são fechados e o embarque, interrompido.
Para ele, “o porto de Santos é o melhor do mundo para exportações de açúcar”, e a situação estará regularizada nos próximos 15 a 20 dias.
Na última sexta-feira (27/8), havia 96 navios ancorados em frente à praia de Santos, sendo que 40 eram para embarque de açúcar. Todos esperavam uma vaga para atracar no cais e começar suas operações. O porto tem espaço para atracar 11 navios de açúcar por vez.
Porto de Santos está "bombando", diz diretor da Codesp
A Codesp (Companhia Docas do Estado de São Paulo), estatal que administra o porto de Santos, diz que o excesso de exportação de açúcar e as chuvas atípicas para o inverno causaram o congestionamento no cais santista, que estaria preparado para qualquer situação.
“O porto de Santos está bombando. É a grande porta de entrada e saída de mercadorias do Brasil para o mundo. Quando o mundo olha para o Brasil, enxerga o porto de Santos”, diz Paulino Moreira da Silva Vicente, diretor de Infraestrutura da companhia.
Ele afirma que o porto tem capacidade, com tempo bom, para embarcar 203 mil toneladas de açúcar por dia, o que significa carregar e liberar quatro navios a cada 24 horas.
O porto de Santos responde por, aproximadamente, 85% da exportação de açúcar do país. Em nota, a Codesp diz que “Santos é o complexo portuário mais bem equipado no mundo para essa operação”.
Segundo a Codesp, os importadores, aproveitando os baixos preços do açúcar no mercado internacional para aumentar seus estoques, acabaram concentrando o envio de embarcações nos meses de julho e agosto e setembro, prejudicando o planejamento logístico.
“Nenhum porto no mundo é dimensionado para períodos de pico de movimentação, similares a este, fruto de uma contingência, totalmente atípica do mercado internacional”, afirma a nota da Codesp.
Porto de Santos vive "apagão logístico" há 5 anos, afirma consultor
O açúcar e a chuva viraram bodes expiatórios e não podem ser responsáveis únicos pelo congestionamento no porto de Santos, diz o consultor de logística e engenheiro José Geraldo Vantine, presidente da Vantine Logistic Consulting.
“O porto de Santos já vive um apagão logístico há muito tempo, uns cinco anos. O porto público está em fase terminal”, afirma.
Ele faz uma diferença entre a área pública e os terminais privados. O porto de Santos tem partes arrendadas a empresas privadas. Para Vantine, essa área particular vai bem.
O consultor afirma que apagão não signifca colapso, mas sim que há restrições pontuais e frequentes. “À medida que apagões ocorrem com mais frequencia, aí sim isso tende ao colapso.”
Para ele, falta programação no porto. “Tudo tem de funcionar de maneira sincronizada (usina, transporte, operador, navio).”
O mau tempo não pode ser a explicação de todos os atrasos. “Os navios com porões sempre fecham com chuva. Desde Pedro Álvares Cabral. Chove no mundo inteiro, em todos os portos”, afirma
“O que aconteceu com o açúcar neste ano aconteceu com a soja ano passado, não é novidade. O açúcar virou um bode expiatório”.
(aspas)
Por : Armando Pereira Filho, Editor do UOL Economia, 31/08/2010
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