quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Santos precisa de R$ 10 bilhões para evitar colapso

 

 

O porto de Santos, que hoje responde sozinho por 25% de toda a carga movimentada pelo país, terá de passar por uma verdadeira revolução em sua infraestrutura se quiser manter a posição de maior centro logístico do Brasil. Esse futuro já tem um preço. Dados compilados pela Secretaria dos Portos (SEP) a pedido do Valor apontam que, entre investimentos do setor público, das empresas e da administradora do porto, Santos vai precisar de R$ 10,5 bilhões para fazer frente à demanda projetada para a próxima década, período em que terá de triplicar a capacidade atual de operação.

 

O plano de ação para o futuro do porto já está em fase de conclusão e não há muitas dúvidas sobre quais as obras necessárias para que Santos não entre em colapso. O que ainda não se sabe é com quanto cada um vai entrar para pagar a conta. O fato é que os recursos disponíveis até agora não dão conta do recado.

 

O governo federal listou uma série de obras para realizar no porto de Santos nos próximos quatro anos. A relação, que envolve obras como a ampliação de avenidas perimetrais, construções de cais e aprofundamento dos berços, tem orçamento total de R$ 1,43 bilhão, recurso previsto no programa de aceleração do crescimento (PAC 2). A contrapartida das empresas que operam o porto é estimada em R$ 4,7 bilhões. Na Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), administradora do porto, há cerca de R$ 500 milhões em caixa para tocar os projetos, segundo informações da SEP. Ou seja, um pacote que soma pouco mais da metade do que é necessário.

 

"É claro que a limitação de recursos existe e essa é uma preocupação constante", diz Augusto Wagner Padilha Martins, secretário executivo da SEP. "Mas, com o que já conseguimos, temos capacidade de desafogar o porto e garantir suas operações."

 

Hoje Santos movimenta mais de 90 milhões de toneladas por ano, volume que deverá superar 240 milhões de toneladas até 2014, conforme projeção de crescimento do PIB, dos valores de mercadorias e dos custos do transporte.

 

Até o fim do ano o governo terá nas mãos seu Plano Nacional de Logística Portuária (PNLP), estudo que vai detalhar as prioridades dos 12 maiores portos do país. Para Santos, além de obras pontuais, o que se prevê é uma mudança radical na logística de escoamento do país até a baixada santista.

 

A nova estrutura prevê a construção de dois grandes centros de apoio logístico, comenta Martins. De acordo com o plano, um desses centros seria erguido no alto da Serra do Mar. O segundo ficaria na baixada santista e os dois seriam ligados por ferrovias. Uma vez que a carga chegasse até a baixada, seguiria até o porto por meio dos rios, reduzindo o uso de caminhões e liberando as estradas. "Não se trata apenas de uma alternativa para o porto. Esse é, sem dúvida, o caminho mais viável que temos para Santos", diz Martins.

 

A distância entre o plano e sua execução é razoavelmente longa, mas o governo quer acelerar as discussões sobre o projeto. Ainda não há detalhamento sobre o tamanho da área que seria necessária para criar os centros logísticos, mas sabe-se que seriam alguns milhares de hectares, o que exigirá um esforço concentrado para conseguir licenças ambientais com o Ibama.

 

Giovanni Paiva, superintendente de Portos da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), afirma que o projeto está em discussão, mas ainda em estágio inicial. "É um plano importante não só pelo fato de o porto de Santos estar no limite de sua capacidade, mas pelos inúmeros benefícios que trás ao setor", diz Paiva. "Há ganhos como a agilidade no desembaraço dos produtos, a redução do custo de frete e o benefício de não ter de construir rodovias."

 

Atualmente, afirma Pedro Brito, ministro da SEP, há algo entre 14 mil e 15 mil caminhões trafegando diariamente pelo porto de Santos. "Enquanto isso, temos um enorme volume de hidrovias que ainda não é usado. Vamos explorar essa capacidade", diz.

 

A falta de centros de apoio logístico fez com que os caminhões, além de meio de transporte, assumissem a função de armazenamento das cargas, formando filas gigantescas na região. Hoje os caminhões respondem por 85% da carga que chega ao porto, volume que precisa cair drasticamente nos próximos anos, sob risco de inviabilizar o acesso rodoviário.

 

No mar, as filas também seguem longas. Ontem, 100 navios aguardavam liberação do porto para atracar. A espera média atual é de duas semanas, segundo a Codesp. Em julho, chegou a 30 dias. O custo diário de um navio parado, dependendo da época do ano, pode custar entre US$ 30 mil e US$ 80 mil.

 

Ontem, durante o evento Santos Export, realizado em Brasília, governo, empresários e representantes do setor debateram sobre o futuro do maior porto do país. Eram aguardados os candidatos à presidência da República Dilma Rousseff e José Serra, mas ambos não compareceram e enviaram representantes. A escolha do local do evento não agradou o ministro da SEP, Pedro Brito, que abriu seu discurso durante o encontro dizendo que gostaria que o debate tivesse ocorrido em Santos, como já foi feito em outras ocasiões.

(aspas)

Por : André Borges e Tarso Veloso, de Brasília, para o Jornal “Valor Econômico”,

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