sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Fiesp cobra postura mais rígida para os produtos importados

SÃO PAULO - Com a possível prioridade dos Estados Unidos de exportar mais produtos manufaturados para o Brasil, a Fiesp prepara uma resposta competitiva e de reciprocidade não tarifária aos americanos. A afirmação é do diretor de Relações Internacionais e de Comércio Exterior da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Roberto Gianetti da Fonseca, em entrevista exclusiva ao DCI, na última sexta-feira.

 

"Estamos vivendo a sobrevalorização do câmbio. Os Estados Unidos não estão entre os países mais competitivos do mundo. A China exporta 10 vezes mais que o Brasil. São muito mais perigosos", diferencia Fonseca.

 

Mas o diretor da Fiesp prevê que alguns setores podem encontrar dificuldades. "Haverá uma competição maior no segmento de eletroeletrônicos e de bens de consumo mais sofisticados, como na área de informática, e até mesmo no setor de autopeças", avalia Fonseca.

 

Ele diz qual será o caminho da entidade para não deixar que o déficit comercial com os Estados Unidos avance ainda mais.

 

"Vamos praticar a reciprocidade. Outro dia, os americanos exigiram um recall de carne, pois no lote apareceu a presença de uma pequena quantidade de vermífugo. A vigilância sanitária deles usa esses argumentos para barrar a competitiva carne brasileira", exemplifica.

 

O diretor completa sua argumentação ao apresentar a sugestão do uso de barreiras não tarifárias. "Praticar o velho protecionismo não é mais viável. Mas vamos ter que nos defender. Vamos utilizar mecanismos mais modernos, como o controle de qualidade e a vigilância de especificações técnicas", detalha Fonseca.

 

Ele citou, como exemplo, que o Brasil pode devolver produtos americanos fora dos padrões nacionais de medidas (cm x polegadas) e peso (quilos x libras).

 

Ao mesmo tempo, Gianetti da Fonseca diz que produtos sem similar nacional podem servir de instrumento para maior abertura comercial. "No caso de importação de autopeças, que tiveram recente redução de alíquota de importação, a Anfavea e o Sindipeças entraram num acordo sobre a não similaridade dos 116 itens. A Fiesp acompanhou esse processo e não houve conflito intersetorial", explicou o diretor. Na visão do economista, a questão maior da competitividade brasileira é o câmbio valorizado. "É inegável que há um processo de desindustrialização em curso. Só cego que não vê. Você tem 150 mil indústrias sofrendo com a concorrência desleal imposta pelo câmbio valorizado. São produtos colocados a preço marginal no Brasil", diz.

 

O diretor argumentou que a missão histórica da Fiesp é defender a indústria brasileira. "Não podemos ficar acomodados. A Fiesp trabalha com projetos de tecnologia e logística para melhorar a competitividade dos produtos brasileiros", aponta Fonseca.

 

O economista disse que a entidade está atenta para as medidas do próximo governo. "Nós conversamos com os principais candidatos. Existe uma certa convergência de opinião de é preciso tomar medidas em relação ao câmbio no próximo governo", afirmou.

 

Gianetti argumentou que apesar do coeficiente de abertura da economia brasileira ser de apenas 23%, o câmbio valorizado por muito tempo sufoca a indústria. "Entendemos que atuar dentro do câmbio flutuante é possível, e o Banco Central, a exemplo do que está sendo feito no Japão, tem capacidade de evitar sub e sobrevalorização", disse Fonseca ao descartar sugestões de medidas de intervenção heterodoxas.

 

E por fim, o economista calculou o patamar aceitável do dólar. "O câmbio entre R$ 2,00 e R$ 2,40 não geraria inflação residual. E podemos ter um país muito competitivo e promissor", concluiu o diretor da Fiesp.

 

O presidente da Associação Nacional de Distribuidores de Auto Peças (Andap), Renato Giannini, confirmou o acordo intersetorial. "A redução da alíquota de importação para produtos que não fabricados no Mercosul é favorável para o setor de autopeças, uma vez que a indústria nacional não produz esses itens e o mercado precisa ser abastecido com esses produtos."

 

Brasil x EUA

 

Na corrente comercial com os americanos, as nossas importações cresceram 32,4% nos primeiros oito meses de 2010 e atingiram US$ 17,18 bilhões.

 

No sentido inverso, as exportações alcançaram US$ 12,41 bilhões em igual período, ou seja, déficit de US$ 4,77 bilhões.

 

Nosso último superávit foi em 2007 com US$ 1,79 bilhão, abaixo dos US$ 6,34 bilhões de 2006.

 

(aspas)

 

Por : Ernani Fagundes, para o Jornal “DCI”, 20/09/2010

 

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