quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Lula descumpre meta de abrir economia

Peso do comércio exterior no PIB é quase o mesmo do início da década; país é o mais fechado dos emergentes

 

Mesmo com retomada da economia, volume físico vendido hoje ao mercado externo é semelhante ao de 2005

 

O comércio exterior brasileiro fechará o ano muito distante da meta para a abertura da economia estabelecida no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o que isola ainda mais o país na posição de mais fechado entre os principais mercados emergentes.

Somadas, exportações e importações deverão chegar a algo entre 17% e 18% do Produto Interno Bruto, praticamente o mesmo percentual do início da década.

Apenas cinco anos atrás, anunciava-se a duplicação da taxa de abertura nacional.

"Nosso fluxo de comércio passou do patamar histórico de 15% do PIB, até meados dos anos 1990, para 30% hoje", discursava, em outubro de 2005, por exemplo, o então ministro da Fazenda, Antônio Palocci, em conferência da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico).

Vivia-se a maior expansão do comércio global desde os anos 1970, e Palocci, graças a um arredondamento generoso, já dava como cumprido o objetivo fixado para o ano seguinte por seu colega Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) e considerado estratégico para o aumento da eficiência empresarial e da renda do país.

De lá para cá, no entanto, a escalada das exportações, que alimentava o otimismo oficial, foi estancada -mesmo antes do colapso provocado pela crise financeira de 2008 e do ano passado.

Mesmo com a recuperação em curso, os volumes físicos vendidos ao exterior permanecem semelhantes aos de 2005, a despeito da expansão da economia.

Além disso, um efeito estatístico tornou a taxa de abertura atual inferior até mesmo aos 21% herdados do governo FHC, embora os fluxos de comércio tenham crescido desde então.

 

DÓLAR

A forte queda das cotações do dólar inflou o valor do PIB em moeda norte-americana, empregado no cálculo da taxa de abertura nacional. Com o aumento do denominador, os percentuais ficaram mais modestos.

O IBGE ainda revisou para cima o cálculo do PIB em real dos últimos anos. E o governo não trabalha mais com metas vinculadas ao PIB.

As idas e vindas do câmbio tornam mais difícil avaliar a evolução da abertura econômica -afinal, os patamares baixos dos anos 1990 também foram calculados com dólar barato.

Numa conta grosseira, a corrente de comércio brasileira não passaria hoje dos 25% de um PIB calculado com um dólar hipotético a R$ 2,60 -cotação apontada em estudo do banco de investimento Goldman Sachs como a de equilíbrio no país.

(aspas)

Por : Gustavo Patu, de Brasília, para o Jornal “Folha de S. Paulo”, 29/08/2010

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