SÃO PAULO - Em breve, o governo deve anunciar pacote para estimular a exportação neste ano. Para tanto, hoje haverá uma rodada de negociações com empresários, onde o governo deve ouvir opiniões e reivindicações sobre quais medidas devem ser colocadas em prática para beneficiar esse comércio. Segundo especialistas, as mudanças mais urgentes deveriam ser em relação à implantação de uma política industrial, desonerações fiscais, redução da taxa de juros, promoção internacional, entre outras. Mas eles não acreditam que essas sejam as medidas a serem anunciadas.
Na segunda-feira passada, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que se reunirá hoje com integrantes do Grupo de Acompanhamento da Crise (Gac) para discutir o assunto. "Queremos ampliar o crédito do BNDES para o pré e pós-embarque, entre outras medidas", disse o ministro. Questionado sobre quais seriam essas outras medidas, Mantega não quis detalhar o assunto, pois, segundo ele, o governo está "ainda estudando essas medidas" e acrescentou que "qualquer medida anunciada sem ser a oficial é furada". Segundo o secretário de Comércio Exterior, Welber Barral, o novo pacote poderá envolver crédito, desonerações e medidas cambiais. "O presidente Lula pediu e nós estamos conversando com o Ministério da Fazenda e empresários, mas levará um tempo para decidir, já que são medidas tecnicamente muito complexas", ressaltou. "São várias propostas, muitas na área tributária. Mas há medidas cambiais que o Banco Central está estudando, e também regras de simplificação de procedimentos", completou.
O presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior (Abracex), Roberto Segatto, mandou um material para o governo reivindicando a implantação de uma política industrial, com reaparelhamento do setor produtivo e isenções fiscais. "O setor é prejudicado porque produz com maquinário a custos e qualidade não equiparáveis às exigências internacionais", explica.
De acordo com pesquisa da Abracex, de 236 empresas do diversos setores industriais consultadas, 99% disseram que o reaparelhamento do parque industrial é necessário para o crescimento do País e ter reflexos nas exportações. Para todas as pesquisadas, a prioridade para o crescimento da produção industrial é a implementar a política industrial, como existia nas décadas de 70 e 80.
Além disso, em outro estudo da Associação, 95%, de 303 empresas consultadas, acreditam que o parque industrial poderia estar mais atualizado se não fosse a burocracia e alta carga tributária, pois o momento com a queda do dólar é ideal para se investir. "O governo não deve ter atitudes paliativas, tem que pensar em realmente ajudar o exportador", diz Segatto.
A curto e médio prazo
Na opinião do professor do Mackenzie, Francisco Cassano, o ideal para resolver o problema do exportador neste ano seria desonerar a cadeia produtiva - já que a incidência de impostos, nas matérias-primas por exemplo, prejudica o comércio -, como também diminuir a taxa de juros - pois essa reduz investimentos em maquinário moderno e promove receios nas tomadas de empréstimo. "Entretanto, não acredito que esse ideal estará neste pacote de medidas a ser anunciada, porque não é o momento para reformas tributárias, assim como redução da taxa de juros [pelo aquecimento da demanda interna]", entende.
Para Cassano, haverá o anúncio de medidas paliativas como a ampliação de recursos, principalmente do BNDES e algumas isenções fiscais. "O que não resolve o problema, mas no curto médio prazo deve ser isso a ocorrer", conclui o professor.
O professor do curso de Administração da ESPM, Orlando Sampaio, acredita que será mais palpável o governo aceitar as sugestões do empresariado em ampliar as linhas de financiamento visando a exportação, como também desonerações fiscais e reduzir o tempo de devolução dos créditos tributários, barateando, inclusive, os custos de produção. "Mas o ideal seria controlar a questão da supervalorização do real", completa Sampaio.
"No entanto, o que o governo deveria estudar melhor é quais setores beneficiados devem contribuir mais a fim de estimular as exportações de forma mais agressiva", sugere o professor.
Já para o professor da Fia, Alberto Pfeifser, as mudanças nas exportações a curto prazo seriam mais eficazes se o governo investisse na promoção da "marca brasileira" - como chama -, no exterior. "O governo poderia, em primeiro lugar, abrir e aprofundar o laços comerciais com países tradicionalmente parceiros [Estados Unidos e América Latina], com os recentes [países árabes e Ásia] e com parceiros pouco ou não explorados [África , Leste Europeu e Rússia]", aponta.
Por outro lado, Pfeifser comenta que o foco deve ser aumentar o comércio internacional, não se preocupando somente em exportar mais. "Acordos internacionais, apoio às importações, garantias de financiamento, entre tantas outras medias ampliariam o comércio exterior", analisa.
Com a reunião entre representantes do governo e empresários exportadores que acontece hoje, começa a ser definido o pacote de estímulos à exportação que o governo pretende lançar em breve. Entre as propostas levadas pela Associação Brasileira de Comércio Exterior (Abracex), estão desonerações tributárias e estímulo a investimento em ampliação da capacidade de produção, o que impulsionaria as exportações, segundo empresários.
Ao mesmo tempo, levantamento feito pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) mostra que caiu o volume de exportações da indústria de transformação nos últimos anos. Um dos setores que mais sofreram foi o da indústria de aeronaves, ferrovias e embarcações: perdeu 28 pontos percentuais na pauta de exportação em apenas 6 anos. Em 2004, as empresas brasileiras exportavam 52,1% da produção; no ano passado, o percentual despencou para 24,1%.
A boa notícia é que o crédito à exportação deu sinais de recuperação em janeiro. O Adiantamento de Contratos de Câmbio (ACC) cresceu 1% no primeiro mês do ano, para R$ 30,3 bilhões.
(aspas)
Por : Fernanda Bompan, para o Jornal “DCI”, 03/03/2010
Nenhum comentário:
Postar um comentário