segunda-feira, 15 de março de 2010

Bens de consumo, infraestrutura e construção vão atrair investimentos em 2010

15/03 - 07:26 - Cláudia Ribeiro, iG São Paulo

A forte entrada de investimentos no fim do ano passado deve se manter em 2010 e já tem caminho certo. De acordo com Braulio Borges, economista-chefe da LCA, os setores de bens de consumo (geladeira, fogão etc), infraestrutura e construção civil vão atrair a maior parte dos recursos nos próximos meses. “O investimento vai acabar se espalhando por toda a economia, mas agora são estes os três setores que puxarão os investimentos”, diz.

Os setores de bens de consumo foram beneficiados pela redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), no ano passado. O benefício já terminou, mas Borges avalia que a demanda interna continuará aquecida. “Como esta indústria já está no limite da sua capacidade, para crescer ela vai precisar de mais investimentos”, afirma.

No caso de infraestrutura, as Olimpíadas e a Copa vão demandar recursos, além das necessidades que o setor já tem por conta da perspectiva de crescimento econômico em 2010. A construção civil, que vem de um ano aquecido, terá ainda o impacto do Programa Minha Casa, Minha Vida. “O programa já impulsionou o setor em 2009, mas o peso maior virá neste ano”, avalia Borges.

Tendência

Os dados divulgados na quinta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que mede os investimentos na economia, recuou 9,9% em 2009. Mas no último trimestre do ano em comparação com o período anterior, a alta foi de 6,6%.

“A retomada dos investimentos é o dado mais importante do PIB 2009. Os empresários estão expandindo”, afirma José Júlio Senna, ex-diretor do Banco Central e sócio da MCM Consultores. "Isso acontece só quando a perspectiva é boa. No mundo desenvolvido, isso nem acontece nos dias atuais. Os investimentos que existem acontecem apenas com dinheiro público."

Borges, da LCA, destaca ainda que o resultado do investimento no último trimestre do ano “é um número que mostra a tendência para 2010”. Segundo ele, a expectativa é que, no fim deste ano, a taxa de investimento acumulada chegue a 21% e o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) pode chegar a 6%.

“O investimento tem tido papel crescente”, afirma Guilherme da Nóbrega, economista-chefe da Itaú Corretora. "O consumo, mesmo passando o bastão, continua robusto e cresceu 1,9% no trimestre. Exportações, idem: 3,6%".

Borges aponta três motivos para o crescimento contínuo dos investimentos. O primeiro é o restabelecimento do crédito para pessoa jurídica no fim do ano passado. “Isso aconteceu porque a inadimplência das empresas diminuiu", diz. "Os bancos já estão capitalizados para isso."

O segundo ponto é a redução da ociosidade das empresas, que chegou a 77% ao fim do primeiro trimestre de 2009. “Agora, operando com a capacidade perto do limite, a única opção para produzir é investir.” O terceiro fator, segundo Borges, é a melhora do otimismo dos empresários, que atingiu em fevereiro o melhor nível desde 2007.

Riscos

Senna avalia, contudo, que existem riscos. “Há economistas nos Estados Unidos pródigos em alertar que esta crise financeira vai estourar numa crise das contas públicas dos países", diz. "Os desdobramentos, se piorarem, podem trazer uma interrupção no fluxo de capitais. Aversão já existe por causa da questão fiscal na Europa. E o real sofre bem com estas oscilações.”

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