quinta-feira, 5 de maio de 2011

Setor calçadista acusa China de "driblar" taxação

Exportações do país para o Brasil caem no 1º tri, enquanto as de Vietnã, Indonésia, Malásia e Hong Kong quase dobram

Por "triangulação", país enviaria produtos por vizinhos; Câmara de Comércio não se pronuncia sobre o tema

O valor das importações de calçados provenientes de Vietnã, Indonésia, Malásia e Hong Kong quase dobrou no primeiro trimestre de 2011, na comparação com o mesmo período de 2010. Enquanto isso, os embarques da China ao Brasil caíram.
Essa movimentação, segundo o setor calçadista, é mais uma evidência de que a China está "triangulando" o envio de calçados para o Brasil, com o objetivo de escapar da taxação do produto.
Pelo argumento da indústria calçadista brasileira, os produtos chineses "passam" por outros países asiáticos, onde ocorre alteração dos documentos que atestam a origem da mercadoria.
Assim, os calçados chegam ao Brasil como se não tivessem sido produzidos na China, escapando da tarifa antidumping.
Procurada, a Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China não se pronunciou.
A sobretaxa contra o dumping (venda abaixo do preço de custo no país de origem), de US$ 13,85 (R$ 21,74 no câmbio de ontem) por par, foi estabelecida pelo governo brasileiro em março de 2010.
Segundo números do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, compilados pela Abicalçados (Associação Brasileira das Indústrias de Calçados), o valor das importações provenientes da China recuou 4% no primeiro trimestre, para US$ 29,3 milhões.
No mesmo período, Vietnã, Indonésia, Malásia e Hong Kong enviaram para o Brasil, juntos, US$ 82,4 milhões. O número supera em 96% o volume registrado pelos quatro países nos primeiros três meses de 2010.
Quando se avalia o total de pares de calçados e partes desmontadas do produto, as importações provenientes da China caíram 9% neste ano. Já o total dos demais países, juntos, aumentou 49%.
De forma isolada, Vietnã, Indonésia, Malásia e Hong Kong exportaram mais, respectivamente, 81%, 195%, 15% e 149%.
"As importações vêm crescendo gradativamente por meio desses outros países", disse o presidente do Sindifranca (Sindicato das Indústrias Calçadistas de Franca) José Carlos Brigagão.

MAIS TARIFA
Para Brigagão, o problema causado pela triangulação só será resolvido se a tarifa antidumping for ampliada.
Em janeiro, o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, chegou a afirmar que o governo daria início à investigação sobre acusações feitas pelo setor referentes à triangulação. Procurada, a pasta disse que nenhum processo investigatório sobre o caso teve início.

(aspas)

Por : Leandro Martins, de Ribeirão Preto, para o Jornal “Folha de S Paulo”, 03/05/2011

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