segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

País é o paraíso dos importadores

Dólar desvalorizado abre espaço para negócios que trazem de fora desde mercadorias a partir de R$ 1 a têxteis e eletrodomésticos. Em 4 anos, número de empresas na atividade cresceu 35%

O Brasil se transformou no paraíso dos importadores. A valorização do câmbio, ou seja, o aumento do valor do real frente ao dólar, deixa os exportadores de manufaturas acuados e amplia o espaço para a importação. Entre 31 de dezembro de 2005 e o mês passado, a moeda americana acumula desvalorização de 34,06% frente à brasileira. Só este ano, a desvalorização chega a 25,10%. Dados da Associação do Comércio Exterior do Brasil (AEB) ilustram a disparidade que essa situação provoca no país. O Brasil tinha, até outubro, 18.815 empresas exportadoras ante 31.527 importadoras. Em dezembro de 2008, eram 20.408 exportadoras no país. Em menos de um ano, portanto, 1.593 deixaram a atividade.

A quantidade de exportadores vem caindo há quatro anos e a de importadores só aumenta. Em 2005, havia 1,2 importadora para cada exportadora no país. Hoje, levando-se em conta os números divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio exterior (Mdic), essa proporção aumentou para 1,7. De 2005 para cá, o número de exportadores cresceu 3% ante um salto de 34,7% no total de importadores. “O problema é que a estatística do governo para a exportação está inflada com cerca de 3 mil empresas que vendiam ao exterior via correio e por isso foram consideradas exportadoras. Até exportador de queijo via correio está sendo computado oficialmente”, sustenta o vice-presidente da AEB, José Augusto de Castro. Isso quer dizer que, retirando da conta esses exportadores de fundo de quintal, o número de empresas brasileiras dedicadas à atividade cairia para 15.198 até setembro deste ano. Isso representa um recuo de 24% no total de exportadores brasileiros num período em que os importadores fazem a festa.

Lúcio Costa, presidente da Suggar, fabricante de eletrodomésticos, nunca escondeu sua empolgação desde que descobriu que comprar eletrodomésticos na China e trazê-los para o Brasil – devidamente identificados com a marca da Suggar – era uma saída perfeita para aumentar sua capacidade de competir com os concorrentes. E o melhor: ainda dava lucro. Em 2009, a Suggar está completando o seu terceiro ano como importadora. “No primeiro ano, nosso faturamento aumentou em R$ 70 milhões. No segundo, em R$ 174 milhões e este ano em R$ 220 milhões. Somando com a fabricação própria, chegaremos a R$ 500 milhões”, comemora. Hoje, há 75 mix de produtos da Suggar. Apenas nove deles produzidos no Brasil. Os outros 66 são importados.

Thaís e Henrique Dufflles são irmãos. Ela, psicóloga. Ele, professor de educação física. Desempregados durante seis meses, os dois resolveram montar um negócio: uma loja de produtos com preços a partir de R$ 1 no Hipercentro de Belo Horizonte, aberta há uma semana, para aproveitar a maré das vendas do Natal. O pai deles, sócio-investidor, vendeu um apartamento na Serra, Zona Sul de Belo Horizonte, para capitalizar o negócio, no qual boa parte dos produtos vendidos são importados da China. O investimento gira em torno de R$ 100 mil e o retorno é esperado em 18 meses. “Fizemos um estudo de mercado e chegamos à conclusão de que valia a pena”, diz Thaís. Assim como os dois irmãos, muitos outros empreendedores brasileiros resolveram apostar suas fichas na importação.

Mas a situação dos exportadores é desanimadora. Principalmente levando-se em consideração que uma das metas do Plano de Desenvolvimento da Produção (PDP), lançado com pompa e circunstância pelo governo federal em maio de 2008 – na presença de 11 ministros –, era aumentar em 10% o número de empresas exportadoras. Júnior César da Silva, fabricante de calçados em Nova Serrana, chegou a exportar um terço de sua produção. Hoje, esse número não passa de 5%. As exportações foram iniciadas no município em 1999. No auge da atividade, em 2006, a venda de calçados brasileiros para o exterior chegou a US$ 12 milhões. Hoje, esse volume caiu para US$ 3 milhões. Em 2006, um calçado fabricado em Nova Serrana custava US$ 6 no mercado internacional e competia praticamente de igual para igual com um chinês, que valia US$ 5,50. Agora, o produto nacional custa US$ 14 e o chinês, em torno de US$ 7. “Isso fez muita gente perder mercado”, conclui o empresário.

(aspas)

 

Por : Zulmira Furbino para o Jornal “Correio Braziliense”, edição de 09/12/2009

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