terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Brasil e China já fazem negócios sem usar o dólar

Primeira operação foi feita no mês passado, numa tentativa de diminuir a dependência da moeda americana

 

Brasil e China fizeram no mês passado a primeira operação financeira diretamente nas moedas dos dois países, sem conversão para o dólar. A filial brasileira da fabricante de ar-condicionados Gree enviou quase R$ 1 milhão para sua matriz por meio do Bank of China, que recebeu o dinheiro em reais e o entregou em yuans três dias mais tarde em uma agência na Província de Guangdong.

 

Normalmente, as remessas internacionais são feitas em moedas conversíveis, como dólar ou euro, mas a China está em uma ofensiva para ampliar a utilização do yuan fora de suas fronteiras.

 

Na visita que fez a Pequim em maio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu que o comércio entre os dois países seja feito nas moedas nacionais, sem a conversão intermediária para o dólar.

 

A remessa da Gree teve por objetivo pagar pela importação de partes destinadas à sua fábrica na Zona Franca de Manaus, onde está desde 1999.

 

O vice-presidente do Bank of China no Brasil, Xiao Qi, disse à agência oficial de notícias Xinhua que a utilização das moedas dos países envolvidos na operação reduz o risco associado à flutuação das taxas de câmbio.

 

Em sua avaliação, outras empresas chinesas com atuação no Brasil vão preferir liquidar suas remessas para a China com a conversão direta de reais para yuans, sem passar pelo dólar.

 

No mês de março, o presidente do Banco do Povo da China (o banco central), Zhou Xiaochuan, defendeu o abandono do dólar como reserva internacional de valor e sua substituição pelo Special Drawing Rights (SDR), uma versão rudimentar de moeda internacional criada pelo Fundo Monetário Internacional em 1969.

 

Desde então, a China adotou uma posição mais agressiva para promover o uso internacional de sua própria moeda. Só o Bank of China fez nos últimos meses 50 operações de remessas de diferentes países diretamente em yuans, em valor equivalente a US$ 8,8 milhões. Com Hong Kong, que é uma região administrativa da China, foram feitas mais de 100 transações, na cifra de US$ 14,7 milhões.

 

Os valores são irrisórios quando comparados aos US$ 2,56 trilhões que o comércio internacional da China movimentou em 2008, mas as operações são um indício da disposição de Pequim de gradualmente reduzir a utilização do dólar.

 

Além de defender a liquidação de operações comerciais em yuans, as autoridades chinesas manifestam desde o ano passado preocupação com a cotação do dólar e a possibilidade de forte desvalorização da moeda em razão do enorme déficit americano.

 

A China tem o maior volume de reservas internacionais do mundo, de US$ 2,27 trilhões, e veria esse patrimônio derreter em um cenário de queda livre do dólar. Pelo menos US$ 800 bilhões das reservas estão investidos em títulos do Tesouro dos Estados Unidos e outros US$ 500 bilhões a US$ 700 bilhões estão em ativos denominados em dólares.

 

(aspas)

 

Por : Cláudia Trevisan, CORRESPONDENTE, PEQUIM

 

(aspas)

Comércio em moeda local pode sair caro, diz OMC

Entidade teme que transações sem o dólar encareçam exportações

A Organização Mundial do Comércio (OMC) teme que a existência de várias moedas nos fluxos de bens internacionais pode encarecer as transações e aumentar as incertezas para exportadores e importadores. O assunto foi tratado em documento distribuído há poucos dias aos governos. Nele, a OMC quebra um de seus dogmas ao tratar do impacto do câmbio no comércio.

 

Legalmente, a OMC não tem direito de se intrometer nas questões cambiais, ainda que haja a possibilidade de os tribunais da entidade serem usados caso um país esteja prejudicando os demais ao manipular sua moeda. Pascal Lamy, diretor-geral da OMC, insiste que o câmbio deve permanecer como um assunto do Fundo Monetário Internacional (FMI). Nem a China e nem os Estados Unidos querem ver o tema desembarcando na OMC.

 

Mas, sutilmente, a entidade deu sua opinião sobre o fenômeno de eventuais novas moedas. A avaliação faz parte de um anexo ao seu relatório anual. No documento, a OMC admite que há uma tendência à perda de força do dólar como a principal moeda internacional. Mas ressalta que a erosão de credibilidade e de seu uso não ocorrerá de um dia para o outro e não há perspectiva de uma substituição. Não haveria nenhuma garantia de que a moeda americana vá perder seu papel de moeda internacional.

 

Já um relatório preparado pelo economista Joseph Stiglitz a pedido da Organizações Unidas (ONU) sugeriu que a prática adotada por Brasil e China ganhe terreno. A recomendação é permitir que os países usem moedas locais para fechar seus contratos de exportação e importação. Dessa forma, evitariam prejuízos com a variação do dólar ou com a falta da moeda americana em algum momento. Para Stiglitz, isso deve fazer parte de uma reforma do sistema financeiro internacional.

 

Mas o projeto enfrenta grandes problemas. O primeiro é a competitividade. Setores industriais no Brasil temem que os chineses se aproveitem do acordo de comércio na moeda local para incrementar ainda mais suas vendas ao mercado nacional. Nos últimos anos, o Brasil vem adotando uma série de medidas de restrição às importações chinesas.

 

Outro problema é o impacto que acordos de substituição do dólar teriam para o próprio valor da moeda americana. Os Brics (Brasil, Rússia, Índia e China) contam com reservas internacionais no valor de US$ 2,7 trilhões. Uma perda de credibilidade do dólar afetaria suas reservas.

 

Enquanto as análises se proliferam em relação ao futuro do dólar, a realidade é que nunca na história do sistema financeiro a moeda americana sofreu uma queda tão grande como moeda de referência como no segundo trimestre. Dados da Barclays Capital indicam que 63% das novas reservas obtidas por bancos centrais e comerciais foram em euros ou iene. No trimestre, o dólar representou apenas 37% das reservas adquiridas. No fim do anos 90, quando o euro era criado, o dólar sozinho representava 65% das novas reservas.

 

Em termos de estoque, o dólar ainda é majoritário. Mas nunca a taxa foi tão baixa como agora. A moeda americana representa 62% das reservas de Banco Centrais pelo mundo, calculada em US$ 4,2 trilhões. A taxa é a menor já compilada pelo FMI. No ano 2000, o dólar representava 71% dos estoques de reservas mundiais, de US$ 1,4 trilhão.

 

A recessão nos Estados Unidos, o déficit americano e a tentativa do banco central americano de inundar mercado com dólares para relançar a economia seriam alguns dos fatores que pesaram para a mudança.

 

(aspas)

 

Por : Jamil Chade, CORRESPONDENTE, GENEBRA

Fonte : Jornal “O Estado de São Paulo”, edição de 04/12/2009

 

 

 

Joel Martins da Silva

Gerente

Custom Comércio Internacional Ltda.

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