quarta-feira, 27 de maio de 2009

Indústria prevê queda recorde na exportação

Retração da demanda global derrubou encomendas, mas especialistas também veem a baixa competitividade dos itens brasileiros como causa

(Vendas de produtos manufaturados ao exterior devem recuar 35% neste ano, na maior queda desde 1980, aponta pesquisa)

As exportações brasileiras de produtos manufaturados e semimanufaturados devem ter uma queda de cerca de 35% em 2009 na comparação com o registrado em 2008, de acordo com estimativa feita pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), a partir de uma pesquisa com seus associados e obtida com exclusividade pela Folha. Dessa forma, as vendas externas desses itens cairiam para perto de US$ 78 bilhões, contra US$ 119,8 bilhões verificados em 2008.
Se confirmada essa projeção, será a primeira diminuição desde 1999, quando houve um recuo de 5,8%, e a maior na série histórica do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, que teve início em 1980.
"A principal explicação para a baixa está no encolhimento do mercado consumidor. Fortemente atingidos pela crise, nossos principais parceiros comerciais -EUA, Europa e América Latina- passaram a comprar menos", explica Paulo Francini, diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Fiesp.
O levantamento foi realizado com as 78 maiores indústrias exportadoras paulistas. Contabilizando os volumes já vendidos neste ano e os contratos fechados para entrega nos próximos meses, elas consideram que, no intervalo de 12 meses até setembro, a diminuição das suas vendas ao exterior ficará em 24,8%. Pela representatividade da amostra, as conclusões podem ser estendidas para a totalidade do setor manufatureiro do país.
"O ritmo de redução é maior no caso dos industrializados do que no das commodities, porque, afinal, o mundo continua se alimentando", diz Francini. A China, que se desacelerou, mas continua mostrando fôlego, é uma grande importadora de mercadorias agrícolas brasileiras, não de manufaturas.
Dificuldades


Não dá para controlar a demanda. Mas essa queda nas vendas externas poderia ser menor, caso a indústria brasileira tivesse sua capacidade exportadora mais aprimorada, dizem especialistas. "A crise deixou a nu todos os problemas", afirma Júlio Gomes de Almeida, consultor do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda.
O primeiro problema diz respeito à competitividade -bastante prejudicada, na avaliação de Almeida, pela forte desvalorização do dólar, no período de 2004 a meados de 2008, que foi de cerca de 45%. Isso encarece o preço dos produtos brasileiros no exterior. "Nossas empresas perderam espaço, o que não se recupera do dia para a noite", comenta o consultor.
"O câmbio não é a única dificuldade, porém. O impacto negativo da depreciação da moeda poderia ser minimizado se tivéssemos uma melhor infraestrutura de energia, ferrovias, rodovias e portos."
Como concorrentes mais agressivos aparecem a China e a Coreia do Sul. O foco desses países está agora nos mercados emergentes, onde ainda há apetite por bens de consumo e por máquinas. Até internamente a indústria brasileira está tendo que enfrentá-los.
Outro obstáculo é a falta de uma mentalidade de exportação genuína. "As empresas simplesmente buscam o mercado externo quando o doméstico vai mal, e vice-versa", lamenta Nelson Ludovico, diretor da consultoria em comércio internacional Licex. "Por esse motivo, possuímos apenas 20 mil exportadoras em um universo de 5 milhões de companhias. Internacionalizar marcas e produtos não pode ser fruto de um interesse sazonal, pois se trata de um processo que pede investimentos de longo prazo."
Políticas e esforços


Não é consenso entre os especialistas que o ideal, para o progresso de um país, é a ampliação da sua pauta de exportações. Há quem defenda que o Brasil aposte mais na sua vocação agropecuária. "Diversificação e especialização têm as suas vantagens. Prefiro a estratégia da diversificação, porque a indústria possui maior poder de empurrar a economia. Para cada US$ 1 exportado pelo setor, são gerados mais empregos e renda do que aquilo que US$ 1 de produtos básicos cria. E a atividade da indústria não é artificial no país", frisa Almeida.
"Não que se deva privilegiar um em detrimento do outro. No entanto este é o exato momento de ter uma boa política para os manufaturados, de forma que o país não perca o que já conquistou. Assim, quando a crise acabar, estará bem posicionado para voltar à corrida."
Na sua opinião, o governo federal precisa criar novos mecanismos de financiamento para as companhias que exportam e incentivar a pesquisa e o desenvolvimento de novas tecnologias, além de ser mais agressivo nas negociações comerciais.
Ludovico defende que os empresários redobrem os seus esforços para desbravar novas fronteiras. "Têm de promover os seus produtos, buscar parceiros internacionais. Quem não parou consegue defender a sua participação no mercado. Mais do que nunca, é essencial pensar globalmente."
Setor critica instabilidade no câmbio

Para a Fiesp, os dois setores cujas exportações cairão de forma mais acentuada neste ano são o de automóveis e o de bens de capital (fabricação de máquinas e equipamentos).
Na previsão da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), a redução vai ficar próxima de 50%, com os embarques passando de 248 mil unidades no ano passado para 123 mil em 2009. Em valores, a queda deve ser de 38,8%, de US$ 13,9 bilhões para US$ 8,5 bilhões.
Ao contrário de outros tipos de indústria de manufatura, a automobilística não pode sair disputando mercado pelo mundo -as 18 marcas instaladas no Brasil obedecem às estratégias globais das suas corporações multinacionais. Criar inovações tecnológicas tanto para os produtos como para as linhas de montagem é a sua forma de competir.
A Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos) estima que o setor venderá 15% menos ao exterior em 2009 em relação ao ano passado, quando suas exportações chegaram a US$ 10 bilhões.
"Não é só o dólar baixo que atrapalha. É a oscilação grande demais, que não permite nenhum planejamento", afirma Mario Mugnaini, diretor executivo de comércio exterior da entidade.
Além de criar máquinas que empreguem tecnologias sofisticadas, ele propõe que o setor explore a fabricação de dispositivos mais simples, os quais não interessam tanto aos outros países. (DG)
(aspas)

Por :  Denyse Godoy, para o Jornal “Folha de São Paulo”, edição de 25/05/2009

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