quarta-feira, 27 de maio de 2009

Importação cede espaço a matéria-prima nacional - Crise permite substituição de importações

 

Para reduzir perdas com a queda na demanda, fabricantes locais elevaram a oferta de produtos a preços mais baixos

A crise internacional abriu oportunidade de a indústria brasileira de matérias-primas recuperar parte do mercado perdido para os importados. Não há sinais de que a recuperação seja permanente, mas ela interrompeu um ciclo longo de crescimento na compra de insumos no exterior. No primeiro trimestre, a indústria produziu 14,6% menos em relação ao mesmo período do ano passado, enquanto a atividade em intermediários ficou 18,1% menor. O ritmo de redução no volume importado de bens intermediários foi mais intenso e chegou a 29,5% no mesmo período, segundo a Funcex.

A queda na demanda levou os fabricantes locais de insumos a operar com capacidade ociosa. Para reduzir perdas, eles elevaram a oferta de produtos no mercado interno a preços mais baixos. Além disso, a desvalorização cambial no início da crise encareceu os importados, fator que perdeu força recentemente.

A indústria química retomou, neste mês, o nível de produção de antes da crise, diz Nelson Pereira dos Reis, presidente-executivo da Abiquim. Para garantir esse resultado, de janeiro a abril o volume de importações de produtos químicos recuou 40% e os preços praticados no mercado interno caíram, em média, 20%.

Outros fatores que favorecem o insumo local em detrimento do importado é a insegurança em prever o futuro e o crédito. Segundo Sérgio Aredes, presidente do Sindicel, "a indústria está operando muito em cima da hora para evitar estoques", o que ajuda o fornecedor local. "Não acredito em entrada de importados. Há muito produto disponível", disse. No setor de cobre, os preços caíram 8%.

A siderurgia é uma exceção. O aço importado vem ganhando cada vez mais espaço em algumas linhas de produtos. De janeiro a abril, a importação de chapas grossas representou 28% do consumo interno, percentual que era de 11% há um ano. A concorrência também aumentou nos chamados aços especiais. O produto estrangeiro tem como principal origem a China, informam as empresas e o Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS).

Crise permite substituição de importações

Conjuntura: Movimento é conjuntural e foi facilitado pela necessidade de comprar produtos "da mão para a boca"

Os insumos nacionais ganharam espaço dos importados nas compras da indústria brasileira depois que o país foi atingido pela crise. Por conta da falta de crédito e da insegurança, as empresas reduziram drasticamente a produção, mas cortaram com vigor ainda maior as importações de matérias-primas. Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam queda de 14,6% na produção da indústria da transformação e de 18,1% na produção de bens intermediários de janeiro a março comparado com o primeiro trimestre de 2008 . O ritmo de redução do volume importado de insumos industriais foi ainda mais intenso e chegou a 29,5% no mesmo período, conforme a Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex).

A queda de demanda provocada pela crise levou os fabricantes locais de insumos a operar com capacidade ociosa e elevou a oferta de produtos a preços baixos no mercado interno. Além disso, a desvalorização cambial que ocorreu no início da crise encareceu os importados, embora este último fator tenha perdido força recentemente com a queda do dólar, que está próximo de R$ 2,0.

Segundo Nelson Pereira dos Reis, presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), o setor químico retomou este mês o nível normal de produção, após a brusca interrupção das atividades provocada pela crise no fim de 2008. Ele informou que as empresas optaram por desovar os estoques excedentes nos mercados interno e externo a preços pouco lucrativos.

"As empresas conseguiram que os insumos nacionais substituíssem os importados e também elevaram as exportações, mas com sacrifício. A situação não está fácil. A margem é o que mais sofre", disse o executivo. De janeiro a abril, o volume de exportações de produtos químicos subiu 20%, enquanto o de importações caiu 40%.

Reis explicou que as petroquímicas têm que manter a utilização da capacidade produtiva acima de 90% por razões tecnológicas. É uma tarefa complicada, já que o consumo doméstico de produtos químicos deve cair 10% este ano, conforme estimativa da Abiquim. Para ganhar mercado dos importados, os fabricantes locais já reduziram os preços em cerca de 20% desde setembro, segundo fontes do mercado.

Outros fatores também favorecem o insumo local em detrimento do importado. As indústrias estão com dificuldades para prever a demanda e preferem comprar matéria-prima "da mão para a boca", o que só é possível através de fornecedores nacionais, que estão mais próximos e cujo relacionamento é de longo prazo. As importações também exigem acesso a crédito bancário, que ainda está caro e escasso.

Segundo Sérgio Aredes, presidente Sindicato da Indústria de Condutores Elétricos, Trefilação e Laminação de Metais Não-Ferrosos (Sindicel), a indústria está operando "muito em cima da hora" para evitar estoques. Ele contou que os prazos para a entrega de produtos caíram de um mês para uma semana. "Não acredito em entrada de importados. Tem muito produto disponível", disse. Nesse setor, os importados não chegam a 5% do consumo.

O executivo afirmou que os estoques do setor estão normais, mas que o faturamento caiu em abril com o fim dos pedidos em carteira. A produção, que já vinha 30% abaixo de 2008 no primeiro trimestre, desacelerou mais e a queda chegou a 40% em abril. Com capacidade ociosa, as empresas reduziram os preços em cerca de 8%. "Tivemos que fazer descontos por conta da carência de demanda, mas as margens estão comprimidas", disse Aredes. Ele projeta queda de 12% no volume vendido no mercado brasileiro em 2009.

Fernando Ribeiro, economista-chefe da Funcex, explica que a atual substituição de insumos importados por nacionais não é resultado de uma mudança estrutural na competitividade dos fabricantes locais, mas reflete apenas quem perde menos com a crise. "É um movimento típico de épocas de retração", disse. Antes da desaceleração da economia, ocorria o contrário, com insumos importados tomando o espaço dos nacionais graças ao câmbio forte e à incapacidade das indústrias locais de atender a demanda. "O ciclo vai se repetir quando a demanda voltar a crescer, porque uma mudança só se consolida com investimentos significativos", disse Ribeiro.

O setor de aço é um dos poucos que ainda possui estoques em excesso - cerca 3,6 meses de venda nas redes de distribuição, 1,2 mês acima do usual, conforme o Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda). Carlos Loureiro, presidente da entidade, avalia que a situação só deve se regularizar no fim de agosto, porque as compras foram retomadas em ritmo lento. Na sua opinião, não há espaço para aço importado, já que a capacidade ociosa nas siderúrgicas é alta. "Só se for especulação, feito por um distribuidor não regular", disse.

As siderúrgicas estão preocupadas com a concorrência do importado, principalmente da China, que manteve a produção estatal mesmo com a crise. A produção de aço nacional caiu mais de 40% de janeiro a abril, enquanto as importações subiram 2,2% em volume - na contramão dos demais insumos. O aço importado representa uma fatia pequena da produção, mas ganhou espaço em alguns segmentos. Nos aços planos, por exemplo, o país adquiriu no exterior o equivalente a 16,5% do que produz entre janeiro e abril, acima dos 7,7% do primeiro quadrimestre de 2008. Segundo fontes do mercado, os importados pressionam as margens das siderúrgicas. Os preços do aço caíram, em média, entre 20% e 25% este ano.

No setor eletroeletrônico, as importações recuaram 27% no primeiro trimestre em relação a igual período de 2008, conforme a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee). Em semicondutores e componentes, a queda chegou a 34% e 48%, respectivamente. Humberto Barbato, presidente da Abinee, atribui a queda das importações à menor demanda da indústria, por conta do enfraquecimento da economia local.

"Os fabricantes de celulares e computadores não conseguem substituir os componentes importados, porque esses produtos não são fabricados no Brasil", disse. Barbato avalia que só uma política industrial ativa é capaz de reduzir o déficit do setor, que ficou em US$ 3,5 bilhões entre janeiro e março. Ele contou que os estoques foram ajustados, após redução de produção e demissão de funcionários, e que as vendas subiram um pouco em abril, mas estão abaixo do satisfatório.

(aspas)

Por : Raquel Landim e Ivo Ribeiro, de São Paulo, para o Jornal “Valor Econômico” – edição de 26/05/2009

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