Mesmo com a economia em desaceleração, o câmbio favorável - média de R$ 1,67 no ano passado - fez a quantidade de empresas importadoras brasileiras crescer para 42.327 mil no ano passado. Isso significa elevação de 9,4% em relação a 2010 e um total de 3.627 importadores a mais. As empresas que desembarcaram produtos "made in China" foram as que puxaram o aumento, com uma contribuição de 3.260 firmas a mais, o que representa crescimento de 15,6%.
Do universo do total de importadores brasileiros, 56,9% fizeram desembarques com origem China. Em 2010, essa participação era de 53,8%. Os dados são do Ministério do Desenvolvimento. A expectativa é que a tendência de aumento de importadores continue em 2012.
Também houve, no ano passado, um aumento no número de empresas que desembarcaram produtos originados dos Estados Unidos, país que é ainda o principal fornecedor do Brasil. Os americanos somaram 18.212 importadores, o que significa 1.172 empresas a mais que em 2010. A Argentina, porém, foi em sentido inverso. Em 2011, 5.169 empresas brasileiras fizeram importações com origem Argentina, o que significa 110 a menos que no ano anterior.
Americanos, chineses e argentinos são os principais fornecedores do Brasil. No ano passado, o país importou US$ 33,86 bilhões dos EUA. Os desembarques com origem na China e na Argentina foram de US$ 32,79 bilhões e US$ 16,91 bilhões, respectivamente.
José Augusto de Castro, presidente em exercício da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), lembra que o crescimento diferenciado entre Estados Unidos e China pode ser explicado pela pauta de exportação de cada um dos países.
"A importação de produtos americanos ainda está muito relacionada às transações entre empresas do mesmo grupo, o que explica um crescimento menor das empresas que desembarcam produtos dos Estados Unidos." Essa importação, explica Castro, é feita entre empresas de grupos americanos que estão instalados no Brasil.
O comércio com a China, diz ele, é diferente. "A importação é feita por empresas independentes, frequentemente sem relação com o exportador." Por isso, como efeito de um câmbio favorável às importações e de um cenário de crescimento de consumo e disponibilidade de renda, aponta Castro, há uma reação rápida na quantidade de empresas que desembarcam produtos do país asiático. Com a atual elevação dos investimentos diretos dos chineses em território brasileiro, diz ele, o comércio Brasil-China passará a contar, num prazo mais longo, também com as trocas entre empresas do mesmo grupo.
Para Welber Barral, sócio da Barral M Jorge Consultores, o preço médio do dólar em 2012, ainda que siga as previsões e fique ligeiramente maior que o de 2011, ainda refletirá um real desvalorizado e continuará sendo favorável à importação. "Com a perspectiva de crescimento da economia doméstica, mesmo pequeno, a tendência é que o número total de importadores continue aumentando."
Fabio Silveira, sócio da RC Consultores, explica que o real desvalorizado estimula importações em geral e torna especialmente competitivos os preços de países com custos mais baixos de produção, como a China. "Foi o câmbio favorável à importação que fez muitas empresas comerciais brasileiras se instalarem na China para facilitar a compra de produtos para venda no Brasil."
Para Barral, a diversificação da pauta de exportação chinesa também contribui para o aumento na quantidade de empresas brasileiras que desembarcam produtos do país asiático. "Os chineses estão ampliando o rol de mercadorias exportadas, desde itens básicos até os com maior conteúdo tecnológico."
Ele lembra que pouco a pouco os fornecedores da China estão vendendo ao Brasil maior número de insumos e ganhando espaço também em produtos sob encomenda, como bens de capital tradicionalmente fornecidos pelos americanos e europeus.
Barral acredita que há ainda um número grande de empresas que já usava insumos originados da China, mas não figurava entre os importadores, porque compravam de terceiros, que faziam os desembarques. Com a maior frequência das compras, porém, entraram no rol das empresas que importam diretamente do país asiático. Há outros que já importavam de outras origens, como Estados Unidos, e passaram a importar da China.
Os fornecedores americanos, diz Barral, também se esforçam para diversificar a pauta de exportação ao Brasil. "Por isso a tendência é aumentar o volume do comércio entre empresas independentes. Há esse esforço das empresas americanas, o que se reflete no número de empresas brasileiras que importam dos Estados Unidos."
A redução de empresas que importam produtos argentinos, acredita Barral, reflete as barreiras protecionistas impostas pelo país vizinho. "Como há uma certa integração em algumas cadeias de produção, as barreiras argentinas à importação de produtos brasileiros acaba prejudicando a exportação da Argentina para o Brasil."
Silveira acredita que o maior obstáculo da Argentina está na pauta de exportação. Ele lembra que há pouca diversificação entre os produtos argentinos vendidos ao exterior, com predominância das commodities. "A Argentina não oferece produtos industrializados, pelos quais há uma demanda crescente no Brasil." A grande exceção nas trocas entre os dois países está nos automóveis. "Esse comércio acontece por conta do acordo automotivo. Mas fora os veículos há poucos produtos de maior valor agregado."
(aspas)
Por : Marta Watanabe, de São Paulo, Jornal "Valor Econômico" 08/02/2012
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