Durante visita de autoridades da China ao país, o governo brasileiro solicitou ao chinês que restringisse as exportações de suas empresas para o Brasil. Demandava-se proteção para as empresas brasileiras do setor de tecidos, roupas, calçados e eletroeletrônicos.
O governo não forneceu mais detalhes a respeito desse pedido nem dos objetivos diplomáticos dessa iniciativa. Sem mais explicações, ela parece tanto patética quanto reveladora do desnorteio da política comercial brasileira.
Em primeiro lugar, tal demanda no máximo pode ser um meio de expressar a insatisfação do Brasil diante das políticas comercial e econômica da China. Segundo: autoridades chinesas têm longo histórico de indiferença a demandas comerciais de outros países. O caso mais notório é o desprezo chinês em resposta a queixas americanas a respeito de manipulação cambial e propriedade intelectual.
Terceiro: a política brasileira para setores expostos à dura concorrência asiática é míope. Manufaturas como as de têxteis e calçados sofrem no presente a pressão chinesa. Daqui a muito pouco, porém, tais produtos serão exportados por vizinhos, como Vietnã e Camboja, que também incorporam massas de mão de obra barata à sua força de trabalho.
Quarto: deve ser considerado que as condições em que se dá o comércio de manufaturados básicos são afetadas, no que mais importa, por fatores sobre os quais o Brasil tem pouca influência -câmbio e crise mundial. Quinto: de fato, há subfaturamento e contrabando no comércio asiático. Nesse caso, o Brasil deve tomar medidas duras, mas o problema não se limita à competição desleal.
Sexto: o governo federal precisa acelerar a remoção de empecilhos burocráticos e a carga de custos que prejudicam as empresas brasileiras. Impostos, energia, logística -tudo aqui é mais caro.
Por fim, dados todos esses argumentos, o governante pode ficar tentado a assumir francamente a atitude protecionista e elevar tarifas. Nesse caso, governo e empresas reconhecerão sua inépcia; os custos aumentarão (inflação).
A boca entortada pelo uso do cachimbo protecionista anunciará medidas para a proteção de mais setores. Mas parte da indústria brasileira não terá como competir com o complexo asiático -no mínimo, nossos salários são mais altos.
A receita continua a mesma: reduzir custos e burocracia; incentivar a inovação; estimular o uso do capital e do trabalho nacionais em setores mais avançados que o de commodities agrícolas e minerais.
(aspas)
Editorial do Jornal "Folha de São Paulo" 22/02/2012
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