segunda-feira, 29 de agosto de 2011

ENTREVISTA - Direito 2.0 : O mundo jurídico na blogosfera


http://www.meuadvogado.com.br/entenda/direito-20-juridico-blogosfera.html

Direito 2.0 : O mundo jurídico na blogosfera
Em uma entrevista especial, conversamos com profissionais de Direito que utilizam blogs como meio de compartilhar informações e capacitar a sociedade a entender o mundo jurídico


Em espaços antes considerados informais, advogados e iniciantes na profissão em exercício do Direito, compartilham hoje em seus blogs, artigos, notícias e novidades do mundo jurídico.

Críticas a posições e leis regulamentadas, até indicações de filmes, músicas, frases, experiências e curiosidades também são assuntos tratados em blogs de profissionais do judiciário.

Em uma entrevista especial, conversamos com doutores que utilizam blogs para compartilhamento de notícias, informações e até mesmo conscientização da sociedade na busca pelo seu Direito.

Pode dar uma breve introdução sobre seu blog e o motivo que o levou a criá-lo?

Dr. Rogerio Zarattini Chebabi: O principal intuito do blog foi o de condensar normas aduaneiras e artigos que falassem sobre comércio exterior e direito aduaneiro, com a única finalidade de melhor orientar importadores, exportadores, advogados e despachantes aduaneiros.

Dra. Simone Arthur Nascimento: Meu blog Papo Legal foi criado com o objetivo de orientar o cidadão comum sobre os problemas básicos que enfrentamos no dia-a-dia. Os advogados sempre são muito questionados, principalmente por familiares e amigos que não são da área, sobre matérias veiculadas na imprensa acerca de novas leis. É muito difícil pro cidadão que desconhece a técnica do mundo jurídico compreender certas coisas e saber como se posicionar diante delas. Além do mais, o blog é um meio de divulgação do nome, já que a OAB proíbe a propaganda.

Dr. Leonardo Amarante: Com a ajuda da minha assessoria de imprensa e do conhecimento que tenho no meios midiáticos, isto em decorrência de entrevistas e consultas jurídicas que prestei em casos de relevância nacional, a Veja Rio me convidou para colaborar com a sua coluna (blog)  o “Direito é seu”, cujo objetivo é discutir temas inerentes à defesa dos direitos dos consumidores. Julguei muito pertinente o convite e decidi escrever semanalmente matérias sobre acontecimentos recentes que sejam importantes ao consumidor em geral. Assim, como integrante da ‘sociedade civil’, usando um termo comum entre sociólogos e cientistas políticos, eu presto minha colaboração elucidativa e cognitiva à população sobre os seus direitos.

Dra.Maria Lucia Ciampa Benhame Puglisi:Meu primeiro post foi no dia 23/03/2010 e acho q ele descreve bem qual é a intenção do blog.

“É com prazer que apresento a vocês o blog jurídico "Na prática, a teoria é outra". O espaço será atualizado semanalmente por mim, Dra. Maria Lucia Benhame, e por advogadas da minha equipe, com textos sobre a nossa visão com relação aos mais diversos temas do mundo do jurídico.”

Qual o principal desafio encontrado na criação e manutenção do blog?

Dr. Rogerio: A criação do blog foi simples porque o BLOGGER, onde fica hospedada a página, dispõe de ferramentas de criação rápida.Posteriormente eu contratei um webdesigner para dar uma aparência personalidazada à página.

A manutenção do blog tem um aspecto fácil, que é o de postar, o que se faz de forma rápida. O aspecto mais complicado é do de se buscar assuntos para se postar. Para isso conto com outros sites, dentre eles o COMEXDATA, FISCOSOFT, ADUANEIRAS, CONJUR, etc. O Despachante e amigo, Joel Martins, também auxilia muito no levantamento de matérias, captando notícias nas principais mídias.

Dra.  Simone:  A criação do blog apresenta, em minha opinião, pequenos desafios. No meu caso, como comprei o uso do domínio, tive dificuldades para configurar corretamente o blog, mas busquei ajuda do suporte técnico e resolvi o problema. A maior dificuldade é manter o blog atualizado. Na correria do dia-a-dia, quando não se tem condições de delegar determinadas tarefas, fica difícil postar com a frequência ideal. Assim, há semanas ou meses em que coloco vários posts e depois passo um bom tempo sem editar nada, porque tenho que me dedicar aos prazos, audiências etc.

Dr. Leonardo: Quanto à criação do blog, talvez o principal desafio para mim tenha sido delimitar os assuntos que eu abordaria, estabelecendo de forma clara os seus objetivos. No mundo das redes sociais, no qual são discutidos assuntos tão diversos, não perder o foco é fundamental. Quanto à manutenção do blog, eu percebo que é um grande desafio manter a regularidade e a qualidade do conteúdo apresentado. No meu caso, em meio a uma agenda cheia de compromissos profissionais (viagens inclusive) e outras responsabilidades, eu preciso de muita disciplina para poder acessar e interagir regularmente com as pessoas que visitam a minha coluna no blog.

O blog seria um espaço mais “descontraído” do meio jurídico?

Dr. Rogerio: Sem dúvida. As pessoas estão cansadas do "juridiquês" enfadonho. A leitura de um texto mais simples e claro facilita a interpretação e norma o acesso ao blog mais prazeroso. Textos com linguajar formal demais são descartados.

Dr. Leonardo: Sem dúvida! Quando falamos às pessoas sobre o meio jurídico, elas logo se lembram que temos uma linguagem própria que parece muito distante delas, com todas aquelas “data venia” e expressões latinas, que é uma ideia ultrapassada do direito e dos seus estudiosos. Na verdade, quase toda ciência tem a sua linguagem. Não é diferente com o direito. Contudo, reconheço que precisamos cada vez mais usar uma terminologia acessível, para que até as pessoas mais simples possam se sentir incluídas nas discussões . Assim, embora eu utilize uma redação técnica no blog, eu procuro sempre tornar o texto objetivo e claro a todo o tipo de leitor.

Dr. Christhian Naranjo: Com certeza. O "Diário" conta casos hilários, e, principalmente foge do juriquês. Estes fatos por si permitem dizer que a rigidez jurídica aqui não habita.

Dra. Maria Lúcia: Acredito que o blog é mais um espaço importante para a divulgação das informações.  A maioria das pessoas não conhece a fundo a legislação trabalhista e como ela  funciona na prática,   o blog é uma nova forma de divulgar informações e Leis. Mas, como a minha intenção é falar com profissionais de todas as áreas o blog acaba sendo um pouco mais descontraído e informal, com menos termos técnicos.

Qual a ‘linha editorial’ que você procura seguir? Quais os fatores que você considera na seleção dos posts?

Dr. Rogerio: Uma linha mais informal e independente. Quando um texto é de minha autoria, ou o comentário sobre determinado assunto é feito por mim, não ligo se o teor irá agradar ou desagradar determinada pessoa, órgão ou entidade. O importante é fazer isso sem ofender ninguém.

Procuro sempre demonstrar que sou contra aquele que favorece a corrupção. Isso é importante destacar.

Fatores considerados: As alterações nas normas aduaneiras que possam facilitar ou criar problemas para os atuantes no comércio exterior. Procuro demonstrar onde estão eventuais ilegalidades e as soluções para resolvê-las.

Quando não há nada a se fazer contra determinada norma, simplesmente alerto que ela existe e que deve ser seguida.

Dra. Simone: O objetivo principal é informar o cidadão. Então procuro selecionar questões práticas, nas quais uma abordagem simples pode trazer a orientação básica necessária. Minha área de maior concentração é no Direito de Família e Sucessões, por isso, os posts sobre este tema são mais frequentes e com mais conteúdo, já que possuo mais material nesta área. Ao selecionar os posts procuro considerar fatos recentes ocorridos no meio jurídico, que trazem consequências para as pessoas, mas que nem sempre são divulgados pela imprensa.

Dr. Leonardo: Minha linha é a informativa. Penso que o papel da minha coluna é prestar um serviço à comunidade em geral, focando, como já disse, nos direitos dos consumidores. Quanto à seleção dos posts, eu penso muito em fatos recentes e nas suas implicações nas relações de consumo. Minha assessoria de imprensa também me ajuda fazendo sugestões para que eu analise a viabilidade de sua veiculação no blog.

Dra. Maria Lúcia: Meu blog fala sobre Direito Trabalhista, que é minha especialidade. Procuro tratar de temas importantes sobre a área, que a maioria das pessoas tem dúvidas, projetos de Lei em discussão no congresso, e decisões do STF, TJT... Gosto de escrever sobre temas que estão sendo tratados na mídia no momento, temas que estão em pauta. E tenho uma seção “Dica de RH”, que atualizo semanalmente.

Na sua opinião, qual a importância da internet na vida do profissional de Direito?

Dr. Marcelo: Na maioria das situações eu vejo o Google como uma forma de alienação dos advogados e futuros advogados. O Google, que era para ser um buscador genérico, acaba sendo usado pelos profissionais como um instrumento de busca especializada. As pessoas não buscam mais a doutrina especializada e só se contentam com buscas genéricas de jurisprudência. Por outro lado, no que se refere à atividades que necessitam de pouca utilização do intelecto como, por exemplo, acompanhamentos processuais e obtenção de certidões, a internet é bastante útil no sentido de fazer o profissional de direito ganhar tempo.

Dra. Simone: A internet, para o profissional do Direito, tem a mesma importância que para as outras áreas de atuação. É uma revolução à qual devemos nos adaptar e tirar proveito. A facilitação de pesquisas, acompanhamento de processos e obtenção de informações é espantosa. Eu, particularmente, sempre gostei de tecnologia e boa parte de minhas atividades depende da internet.

Dr. Leonardo: A internet transformou o mundo de uma forma que ainda não sabemos exatamente como em todos os seus aspectos. Há quem acredite que ela foi a grande revolução do nosso tempo. Acho que qualquer pessoa relativamente esclarecida concordará com isto. Hoje o profissional do Direito precisa da internet para pesquisas em geral (jurisprudência, processos, doutrina, informações diversas, etc). O profissional do direito tem acesso a quase tudo que precisa pela internet. Hoje, no Brasil, a maioria dos tribunais já dispõe de meios para o peticionamento eletrônico. Ou seja, o advogado não precisa sair do seu escritório para protocolizar uma petição. Ele faz isto pela internet. Com o advento do processo eletrônico, também é possível obter cópia das peças eletrônicas do processo via internet. Esta transformação é inexorável e pode contribuir bastante para a melhora da prestação jurisdicional, inclusive.

De que forma os blogs jurídicos podem contribuir na vida do cidadão comum?

Dr. Rogerio: Se alimentados com frequência, e com postagens pertinentes, podem auxiliar demais os que não trabalham com o Direito. São frequentes as consultas ao meu blog por cidadãos comuns precisando de orientações que, na maioria das vezes, não conseguem obter junto aos despachantes aduaneiros e junto à Receita Federal.

Dra. Simone: Os blogs são mais um espaço para divulgação de informação. Eles permitem que o cidadão saiba o que está ocorrendo e perceba as diferenças de opiniões. É importante que o cidadão não se dê por satisfeito com a informação de um único blog. A diversidade inerente ao ser humano está presente também no Direito e há profissionais com perfis conciliadores, litigiosos etc. Conheço profissionais que "criam dificuldade para vender facilidade". Nestes casos o cidadão prolonga um processo sem necessidade, pois deverá obter o mesmo resultado se solucionasse a questão no início. Já vi casos em que o cliente quer fazer um acordo, porque não aguenta mais o desgaste psicológico que o litígio está lhe causando, e o advogado não deixa. Com isso o advogado ganha dinheiro e o cliente pode amargar problemas financeiros, emocionais e até de saúde. Cabe ao cidadão pensar sobre o que é melhor para o problema que ele vai enfrentar. Acho que os blogs refletem bem esta idéia, não só no conteúdo, mas na diagramação. Especialmente se forem criados pelo próprio advogado.

Dr. Leonardo: De muitas formas. Hoje quase todas as pessoas têm acesso à internet, o que torna fundamental a existência de blogs com conteúdo jurídico. Como muitos não têm acesso a bibliotecas jurídicas para pesquisar e pedir informações, os blogs com conteúdo jurídico se tornam não apenas instrumentos informativos que chegam a qualquer pessoa rapidamente, mas são especialmente elucidativos, pois permitem que as pessoas em dúvida sejam esclarecidas em seus questionamentos, seja pelo responsável do blog, seja por outro visitante que participe do fórum de discussão.

Dr. Marcelo: Os blogs jurídicos que existem são praticamente business to business. Um blog jurídico para o cidadão comum deveria tratar de assuntos cotidianos da vida das pessoas do tipo, receber uma roupa queimada da lavanderia, receber o carro com problema depois que voltou da revisão, transações frustradas feitas pela internet, problemas de carência com plano de saúde, etc . São questões aparentemente simples, que não motivariam ninguém a escrever a respeito. Porém, se você é advogado e quer manifestar publicamente posicionamentos sobre esses aspectos cotidianos: (a) você pode entrar em condição de conflito de interesses, uma vez que um cliente seu pode estar no pólo ativo ou passivo dessas relações cotidianos; (b) a relação cliente advogado é revestida de sigilo profissional e nada pode ser divulgado; e (c) cada caso é um caso e tem suas peculiaridades.

Unanimidade: Mídias Sociais
Ter um blog é estar conectado ás mídias sociais? Sim!

Dr. Rogerio: Eu possuo somente o Facebook, mas para uso pessoal e para interação descontraída com amigos.

Dr. Marcelo: Temos perfis no Twitter e no Facebook. Criamos há quase dois anos, fomos pioneiros nas redes sociais se considerarmos apenas os escritórios de advocacia. Acreditamos que as mídias proprietárias são o futuro. A conversação em rede é bastante importante para manter os processos transparentes, com clientes, funcionários e interessados em geral.

Dr. Leonardo: Sim, todas essas mídias quando usadas adequadamente são importantes, e é interessante que o profissional do direito participe delas também com objetivo profissional.

Dr. Christhian: Uso todas! Acho válido qualquer meio de disseminação de ideias e de comunicação.

Dra. Maria Lúcia: Além do Blog, temos twitter (@direito_pratica) e  LinkedIn.

Quais dicas o Sr. daria para um advogado que pretende criar um blog?

Dr. Rogerio: A maior dica que posso dar, se quiser prestar um serviço de qualidade à população é o de alimentar o blog quase que diariamente. Isso fará com que o blog apareça sempre nas primeiras páginas de busca.

É preciso também, quando postar artigos ou matérias de outros, citar as fontes. Isso deve ser respeitado sempre.

Por fim, recomendo que sempre se poste assuntos relacionados somente com o objeto do blog. Se o blog fala sobre Direito Aduaneiro, jamais citar Direito Trabalhista, por exemplo. Isso pode fazer com que leitores assíduos abandonem o blog.

Dra. Simone: Primeiro o advogado deve definir o que ele pretende com o blog: informar ou se promover? É possível fazer as duas coisas, mas a informação deve levar o cidadão à reflexão sobre o assunto e não revelar somente a versão do profissional autor da matéria. Há sites que permitem a criação do blog de forma bem simples, sem a necessidade de conhecimentos técnicos. Agora se o advogado prefere algo mais sóbrio/formal, sugiro que procure o auxílio de um profissional e monte um site. O mais importante é não desrespeitar as regras do Tribunal de Ética da OAB para não ter problemas.

Dr. Leonardo: Procure alguém que possa lhe orientar sobre a parte técnica; defina qual será o perfil do seu blog; defina que público você irá atingir; escolha um material iconográfico que seja pertinente e que torne o blog atrativo; use uma linguagem acessível aos leitores em geral; reserve tempo para interagir com os visitantes do blog. Se você tiver condições,  peça o auxílio de uma assessoria de imprensa.

Dr. Marcelo: Depende do blog, se é pessoal ou corporativo, e qual a finalidade. Se for pessoal, ele deve escolher um assunto macro e desdobrá-lo nos posts. Isso torna o blog interessante. Caso seja um blog corporativo, além da escolha do assunto macro, o profissional deve redobrar o cuidado com as informações passadas para não prejudicar a empresa e nem a si mesmo.

Referência:

Rogerio Zarattini Chebabi  - http://www.direitoaduaneiro.blogspot.com/
 Simone Arthur Nascimento - www.papolegal.net.br

 Leonardo Amarante -  http://vejario.abril.com.br/blog/o-direito-e-seu/

 Dr. Marcelo Valença -  http://www.cidadaocomum.com.br/blog/

 Dr. Christhian Naranjo -  http://diariodeumadvogadocriminalista.wordpress.com/

 Dra. Maria Lucia Ciampa Benhame Puglisi - http://www.benhame.adv.br/blog

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