quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Importado em Santos cresce 40% no ano

 

Empresário diz que mercadoria leva mais tempo parada no porto de Santos do que na travessia desde a China

 

Se volume continuar crescendo, capacidade pode ser alcançada em 2011; Codesp diz que Santos vai suportar

        

 

O porto de Santos, por onde passa 27% do comércio exterior brasileiro, deve alcançar a marca recorde de 96 milhões de toneladas de carga em 2010, informa a Codesp, a empresa que administra o complexo.

Só em 2010, o porto terá movimentado 13 milhões de toneladas a mais do que em 2009. Caso repita o desempenho em 2011, Santos poderá se aproximar de seu limite, estimado em 120 milhões de toneladas. A grande movimentação neste ano já foi possível graças a uma rotina de filas e atrasos.

O PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) reservou R$ 493 milhões em recursos, em parte aplicados. O setor privado também tem um carteira de obras de R$ 3,18 bilhões até 2014.

A questão é que o ajuste da infraestrutura pode não ser rápido o suficiente para evitar mais um ano de filas e confusão, sobretudo se o dólar continuar desvalorizado e o PIB crescendo mais de 6%.

O crescimento das exportações em 2010 ajudou, principalmente a venda de commodities, sobretudo soja e açúcar -esse um dos itens que congestionaram Santos em 2010. Mas foi a importação que surpreendeu até o principal executivo do maior terminal de contêineres do país, a Santos Brasil.

"Ninguém esperava um volume de importações desse tamanho. Não há infraestrutura que suporte um crescimento tão rápido", disse Antônio Carlos Sepúlveda, presidente da Santos Brasil.

Até outubro, as importações gerais do porto cresceram 40,4%, alcançando 26,34 milhões de toneladas.

O resultado foi o esperado: o tempo médio para liberação das importações ultrapassou todos os limites.

"Hoje está demorando mais liberar uma máquina importada em Santos do que todo o tempo de viagem do equipamento da China até aqui", diz Paulo Castelo Branco, vice-presidente da Abimei (Associação Brasileira de Importadores de Máquinas Ferramentas e Equipamentos Industriais).

 

RECLAMAÇÕES

 

A Santos Brasil admite que o maior terminal do porto tem recebido reclamações quanto ao tempo para liberação das mercadorias.

"O tempo médio de liberação de um contêiner aqui era de 11 dias. Hoje, está em 17. Isso não é bom para o terminal, porque atrapalha o fluxo dos navios", diz. Essa média é mais de três vezes superior ao tempo de terminais fora do país.

Carlos Kopittke, diretor comercial do porto, diz que esses atrasos preocupam, mas sustenta que novos investimentos em terminais, nos acessos e o início do projeto "Porto sem papel" vai ajudar muito em 2011 a desafogar Santos. Ele avalia que isso suporta novo crescimento.

 

 

 

Os nós do porto

 

Acessos aos terminais em Santos representam hoje o principal limite para ampliar capacidade portuária

 

Os terminais de contêineres no porto de Santos ainda são suficientes para atender a demanda de importações e de exportações, mas a estrutura de acesso já provoca filas e preocupação.

Até outubro, os quatro terminais (Santos Brasil, Tecondi, Libra e Rodrimar) movimentaram 2,2 milhões de TEUs (cada TEU equivale a um contêiner de 20 pés, cerca de seis metros).

A Codesp, empresa federal que administra o complexo portuário, diz que hoje a capacidade nominal dos terminais é de 3,2 milhões de contêineres. Investimentos dos atuais operadores e de novos elevarão a capacidade a 6,7 milhões até 2014.

O maior problema ainda é chegar aos terminais, pela precária situação da infraestrutura de acesso, tanto pelo mar quanto por terra.

As vias de acesso terrestre vivem congestionadas. A via perimetral da margem esquerda (do lado do Guarujá) é exemplo de como os limites do porto já foram superados. Na região, carros, ônibus, caminhões e trens dividem a mesma passagem em nível. Um risco constante.

"Aqui é assim. Quando passa o trem, todo mundo para. E, quando todo mundo passa, o trem é que para", diz Antônio Carlos Sepúlveda, presidente da Santos Brasil.

A Codesp tenta fechar a licitação para obras da perimetral esquerda e assinar o contrato em janeiro de 2011. O investimento de R$ 68,5 milhões pode separar as ruas dos trilhos.

Pelo mar, a dificuldade é o limite de profundidade do canal de navegação, hoje ainda com pouco mais de 12 metros. Os navios são obrigados a esperar a maré alta para entrar ou sair do porto. Do contrário, podem encalhar. Portos asiáticos têm profundidade de 15 metros.

A Codesp promete entregar essa obra em 2011.

São esses problemas que estreitam a capacidade nominal de Santos.

 

 

Alfândega culpa estrutura por atraso maior

 

 

A falta de infraestrutura em Santos é a razão para o atraso na liberação de produtos importados em Santos. O inspetor-chefe da Alfândega da Receita Federal do porto de Santos, José Antônio Gaeta Mendes, eximiu a Receita.

"Quando uma importação é direcionada para o canal vermelho, quando há conferência física, o operador do terminal tem que levar o contêiner à área de fiscalização. Não raro, esse contêiner está sob outros cinco, e isso implica uma operação muito demorada", diz.

Ele evitou criticar os terminais ou a Codesp, mas disse que é preciso investimentos. Hoje, a Receita atua em 109 terminais.

A Receita disse que o tempo médio para liberação das cargas que são direcionadas ao canal vermelho é de quatro dias. A média nacional é de 2,3 dias. Os números consideram apenas a fiscalização da Receita, e não de outros órgãos federais que também atual no porto.

(aspas)

 

 

Por : Agnaldo Brito, enviado especial a Santos, para o Jornal “Folha de S. Paulo”, 07/11/2010

Nenhum comentário: