sexta-feira, 9 de abril de 2010

Mercado doméstico aquecido e câmbio puxam importações

Comércio exterior: Participação nas compras externas de bens de consumo e de intermediários cresce no 1º tri

Com mercado interno aquecido e favorecidas pelo câmbio e pela queda de preços, as importações de bens intermediários e de bens de consumo, principalmente os não duráveis, mantiveram forte ritmo de crescimento no primeiro trimestre do ano.

No período, a participação das compras de matérias-primas e de bens intermediários do exterior aumentou de 46,3% para 48,2% em relação ao valor total das importações. No primeiro bimestre do ano, o volume de intermediários desembarcados no país cresceu 39,2% na comparação com os primeiros dois meses de 2009. O preço médio dessazonalizado teve queda de 7,6%.

Com 66% de crescimento, os bens de consumo não duráveis formaram a categoria que mais teve aumento no valor médio importado durante o primeiro trimestre, na comparação com igual período do ano passado, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Mdic). Por um preço médio 10% menor, o Brasil trouxe, nos primeiros dois meses do ano, praticamente o dobro do volume de bens de consumo duráveis importados em janeiro e fevereiro de 2009. Os dados são da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), dessazonalizados pela LCA Consultores.

A expectativa é que os desembarques do volume de bens intermediários continuem em ritmo acelerado. "A importação de insumos ainda não chegou a superar os picos de 2008, porque o país ainda não voltou ao nível de produção do período anterior à crise", diz Bráulio Borges, economista-chefe da LCA. Ele acredita, porém, que a recuperação da produção industrial trará um volume de intermediários importados maior que o quantum registrado antes da crise. "As empresas estão em um mercado mais competitivo e precisam reduzir margens de lucro e custos. Isso em muitos casos está sendo feito com a troca de um insumo nacional por um importado."

De acordo com o nível de utilização da capacidade instalada medido pela FGV e dessazonalizados pela LCA, a produção de intermediários ficou em 84,8% enquanto a média de 2004 a 2008 foi de 87,4%. Em bens de consumo, o índice foi de 85,4% em março, maior que a média do mesmo período (81,5%).

Borges lembra que os intermediários importados tendem a ser mais vantajosos que os insumos nacionais em função do real apreciado e dos preços baixos em dólar. "Ainda há muita ociosidade lá fora, com vários países querendo vender sua produção." Para ele, os produtos que podem apresentar nos próximos meses quadro inverso são os que derivam do minério de ferro, em razão da alta de preços da commodity. "Mas essa é uma situação muito pontual."

O economista diz que alguns segmentos, como o automobilístico, já apresentam alguma substituição de insumos nacionais pelos comprados do exterior. Segundo dados do ministério, a importação de partes e peças para veículos, automóveis e tratores aumentou em 67,4% no primeiro trimestre, na comparação com o mesmo período do ano passado.

Fernando Ribeiro, economista-chefe da Funcex, chama a atenção para a baixa base de comparação quando se olha o primeiro bimestre de 2010 em relação a igual período do ano passado. "Os intermediários e os bens de consumo duráveis foram os que mais sentiram os efeitos da crise", lembra.

Mesmo levando em conta a baixa base de comparação, diz Ribeiro, há o efeito do forte crescimento da economia interna na importação dos dois itens. Para ele, certamente haverá em 2010 a substituição de bens intermediários nacionais por importados. "Essa é uma tendência que tínhamos até 2008 e foi interrompida pela crise." Para ele, a grande diferença não é o preço ou o câmbio, mas a oferta internacional de insumos diferenciados e de melhor qualidade.

Ribeiro acredita que a importação de intermediários manterá ritmo forte, alavancada pela produção nacional em 2010. "Um crescimento de 7% ou 8% da produção industrial deve gerar uma taxa de elevação três ou quatro vezes maior em quantum de intermediários importados", diz.

A perspectiva para a importação de bens de consumo duráveis é diferente. Para o economista Rogério César de Souza, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi ), os duráveis deverão passar por uma estabilidade do volume desembarcado ou até um certo arrefecimento até o fim do ano.

Borges, da LCA, diz que a elevação na importação de bens duráveis está fortemente baseada nos automóveis. Os importados, diz, eram, em 2008, 12,9% do total de carros licenciados no país. No ano passado, quando houve recorde de vendas de automóveis no mercado interno, os importados chegaram a 14,8%. No primeiro bimestre, saltaram para 20%.

O desempenho dos duráveis, diz o economista da LCA, está muito relacionado à facilidade de crédito e redução da taxa de juros, que tendem a favorecer esse tipo de bem. "No segundo semestre, porém, já teremos os resultados da política monetária do governo para controle do consumo", diz Borges.

 

(aspas)

Por : Marta Watanabe, de São Paulo, para o Jornal “Valor Econômico”, 08/04/2010

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