A exemplo das marcas estrangeiras, brasileiras expandem compras de matérias-primas e, agora, de roupas prontas, sobretudo da Ásia
No geral, importação de têxteis cresceu 189% no primeiro bimestre deste ano, segundo o Ministério do Desenvolvimento
A Colcci importa roupas prontas da Índia e de outros países da Ásia. A Totem tem uma estrutura de produção na Indonésia. A M.Officer e a Clô Orozco compram seda da China. Peças da linha casa da Le Lis Blanc vêm da Ásia. E até 70% dos tricôs da Huis Clos nesta coleção de inverno têm origem chinesa.
A importação de tecidos, de aviamentos e, mais recentemente, de peças já confeccionadas cresce entre as grifes nacionais, a exemplo do que já ocorreu com as marcas internacionais e as maiores lojas de departamento brasileiras.
Segundo o Ministério do Desenvolvimento, o valor em dólares das importações de têxteis -de matérias-primas a bens finais- avançou 189% no primeiro bimestre ante igual período de 2009. Em toneladas, o incremento das compras foi de 274% em um ano.
"Quando você entra na Miu Miu e vê uma jaqueta de couro "made in China", você percebe que algo está mudando. Se a Prada fabrica ali, é porque a coisa não é tão ruim. Isso nos desperta e nos provoca", diz Adriano Iódice, diretor operacional da marca, que já compra tecidos e aviamentos da Ásia. A Iódice deve começar a importar também peças prontas.
Roupas básicas
A importação de tecidos avança mais rapidamente do que a compra de peças prontas. As grifes nacionais têm dificuldade de encomendar em grande quantidade, condição para que a terceirização da produção se justifique. Na compra de peças prontas, a tendência é optar por itens básicos como tricôs, malhas e tops, já que peças mais elaboradas não são vendidas em escala.
A Huis Clos, por exemplo, compra os tricôs importados e depois personaliza as cores. A marca estuda a possibilidade de encomendar outros tipos de roupa já pronta também para a Maria Garcia, segunda marca da casa.
"Trabalhamos no mercado de luxo e, cada vez mais, notamos que a China expande o leque de opções. E com preços muito bons", afirma Maira Himmelstein, responsável pelo planejamento de coleções da grife.
O estilista Carlos Miele, da M. Officer, destaca, porém, que há entraves para a importação. Segundo ele, aqui, no Brasil, há obstáculos ligados à logística de importação e à alta tributação do produto estrangeiro. Mesmo assim, a importação compensa em alguns casos. Miele diz que, no caso de produtos como a seda e o cashmere, "a diferença de preço e a qualidade da China são mais convidativas" que as condições do Brasil.
Indústria nacional
De acordo com a Abit (que representa a indústria têxtil nacional), "as importações têm crescido velozmente" nos insumos para a produção, assim como no produto final. Estimativa aponta que 8% das roupas no Brasil são importadas -o percentual variava de 1% a 1,5% há cinco anos. Nos tricôs, a participação dos importados alcança 40%, segundo a associação.
Quanto aos bens intermediários -tecidos e aviamentos, por exemplo-, a Abit informa que o percentual de importados não é inferior a 25%.
"A Abit nada tem contra o comércio internacional, mas é categoricamente contrária ao fato de gerarmos empregos fora do Brasil não por ineficiência do trabalhador ou do empresário, mas por variáveis desequilibradas, como câmbio, juros e carga tributária, que não são competitivos quando comparados aos dos concorrentes", afirma Fernando Pimentel, diretor-superintendente da Abit.
Pimentel afirma que a dificuldade de concorrer com os asiáticos aumentou no pós-crise. Com a queda no consumo dos americanos e dos europeus, China, Índia, Bangladesh, Camboja e outros grandes produtores de têxteis e confecções ficaram mais agressivos para ganhar mercados emergentes, como o Brasil.
(aspas)
Por : Verena Fornetti, para o Jornal “Folha de S.Paulo”, edição de domingo, 04/04/2010
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