quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Empresas importam mais e estudam produzir na Ásia

Duas empresas de Santa Catarina miram produzir na China. A Riffel, produtora de peças para motocicletas e roupas para motociclistas, sediada em Blumenau, decidiu ampliar a gama de produtos que fabrica em sua unidade na China, inaugurada há três anos, conta o diretor-comercial, Amarildo Aguiar. Em 2008, 50% do portfólio da empresa já era produzido na China, percentual que vai chegar a 60% este ano e a 70% em 2010.

 

 

Segundo ele, principalmente o aço, matéria-prima essencial para a empresa, é mais caro no Brasil do que na China, tirando a competitividade na unidade brasileira. Nas contas de Aguiar, a produção na Ásia sai, pelo menos, 20% mais barata do que no Brasil, considerando peças para motos de baixa cilindrada e de grande circulação, como um kit de relação-transmissão.

 

 

A indústria de porcas e parafusos Ciser, de Joinville (SC) ainda não tem uma unidade na Ásia, mas voltou a realizar estudos para instalar uma fábrica por lá. O vice-presidente da empresa, Carlos Rodolfo Schneider, entende que essa pode ser a saída mais eficaz para melhorar a competitividade da indústria diante do real valorizado ante o dólar. "Estamos avaliando uma instalação fora e também a ampliação dos itens que importamos", diz. Há quatro anos, a Ciser iniciou a importação de linhas complementares à sua fabricação, mas hoje já entende que é preciso ampliar esse volume.

 

 

A Ciser tem encontrado dificuldades de concorrer com os asiáticos tanto no mercado interno quanto em operações no exterior, como em outros países da América do Sul, onde os chineses estão cada vez mais fortes. Nas suas contas, os chineses conseguem custos 70% mais baixos nas matérias-primas como o aço, o que os coloca muito à frente em termos de competitividade em preços. Para Schneider, importar apenas insumos de forma a diminuir custos de fabricação nas suas fábricas no Brasil "não resolveria o problema" de competitividade. Atualmente, é preciso importar produtos acabados.

 

 

Tradicional empresa exportadora do setor têxtil, a Linifício Leslie, tem usado cada vez mais matéria-prima (fios têxteis) chinesa na sua fábrica de Jacarepaguá (zona oeste do Rio) na produção de tecidos de linho para uso em vestuário ou em decoração. Cláudia Leslie, diretora-comercial da empresa, disse que as importações começaram em 2004 e hoje elas já representam 40% dos fios de linho utilizados. O restante é produção própria, a partir de fibra importada da Bélgica.

 

 

A área de informática foi outra que viu aumentar as importações da China. Na paranaense Aldo Componentes Eletrônicos, uma das maiores distribuidoras do país, 90% das compras do exterior são feitas lá. O dono da empresa, Aldo Pereira Teixeira, conta que 40% das receitas foram obtidas com produtos importados em 2008. O alvo para 2009 era chegar a 60%, mas o número foi revisto para 75%. Segundo ele, além da queda do dólar, a importação ganhou força porque o aeroporto de Maringá, sede da empresa, voltou a ter voos internacionais.

 

 

De acordo com Aldo, importar um netbook da marca Asus fica 15% mais barato que comprar o mesmo produto montado no Brasil pela Visum, parceira da Asus, empresa de Taiwan. Por isso, há quatro meses o empresário deixou de comprar localmente e passou a importar mais. Marcel Campos, gerente de marketing da Asus Brasil, admite que atualmente está mais barato importar da China. "Mas fica difícil colocar todas as fichas numa só estratégia. É preciso dividir", opina. Segundo ele, a diferença de preço depende não só do dólar, mas também da logística e dos custos da distribuidora.

 

 

Campos explica que, há um ano, quando começou a produção local, o equipamento brasileiro "ficava um pouco mais barato". No momento, 10 mil partes de uma nova linha equipamentos da empresa estão no mar para chegar às prateleiras em dezembro.

 

 

"Está uma maravilha para importar. O problema é que exportamos também", comenta Cesar Tavares, diretor da Vilma Alimentos, empresa mineira que deve faturar R$ 550 milhões este ano com a venda de macarrão, mistura para bolos, temperos e refresco em pó. A Vilma este ano começou a importar o acidulante ácido cítrico da China, como forma de baixar o custo em um momento de consumo retraído e insumos em alta.

 

 

"Açúcar e embalagem representam a maior parte do custo de fabricação de um refresco em pó. O problema é que o açúcar este ano explodiu de preço, passou de R$ 30 para R$ 57 a saca. É impossível repassar esta alta para o consumidor e não há como mudar a fórmula e nem trazer açúcar do exterior. O acidulante representa 3% do custo, mas aí pudemos ter um ganho expressivo", disse Tavares.

 

 

No início do ano, a Vilma negociou a compra de contêineres na China a um preço 20% menor do que a concorrência nacional. Meses depois, a diferença já havia crescido para 25%. "Fomos procurados por fornecedores nacionais, que deram o mesmo preço do importado. Estamos começando a fazer novas encomendas de fornecedores nacionais", afirma.

 

 

Segundo o diretor de suprimentos da Agrale, Edson Martins, os preços dos componentes importados da China e de outros países asiáticos como Taiwan e Índia estão estáveis em dólar desde o fim de 2008, depois de uma "leve redução" verificada logo após o estouro da crise mundial. De acordo com ele, a empresa mantém contratos de longo prazo com os fornecedores internacionais e não leva em conta apenas a variação cambial para fechar os contratos.

 

 

"Preço competitivo é um critério, mas não o único", diz o diretor da fabricante de caminhões leves, utilitários, tratores e chassis para ônibus com sede em Caxias do Sul (RS). "Qualidade, pontualidade nas entregas e agilidade no desenvolvimento de novos produtos também são essenciais", afirma. A Agrale começou a importar componentes da Ásia há três anos e hoje tem 15 fornecedores na região, que produzem itens mais básicos como tanques auxiliares de combustível, velocímetros, tacógrafos e mangueiras, entre outros. Esses produtos representam menos de 10% das compras da companhia.

 

 

Everton Muffato, diretor-comercial da rede de supermercados que leva seu sobrenome, disse que a China respondia por 50% de suas importações e o volume deve crescer 5% este ano. Ele explicou que os varejistas costumam fazer compras naquele país em abril e em outubro. Em abril, a rede fez encomendas para o fim de ano. Na época, o dólar estava em R$ 2,30, mas os preços dos produtos eram 15% a 20% menores que um ano antes. "Foi compensador." Muito mais agora, quando as encomendas estão chegando com o dólar perto de R$ 1,80. Entre outros itens, ele comprou 20 contêineres com malas, cinco a mais que em 2008.

 

 

O grupo varejista pernambucano Jurandir Pires, especialista em artigos para o lar, aproveitou o real valorizado para aumentar em cerca de 15% as compras de produtos chineses, como têxteis, cerâmicas, artigos de decoração, móveis, vidros e carrinhos de bebê, entre outros. Falando por telefone da Indonésia, onde negociava com fornecedores após visita à China, o diretor do grupo, Fernando Pires, revelou ter reduzido as importações durante os primeiros meses deste ano, porém garantiu que o cenário está bem melhor e que as compras no exterior já se encontram no patamar pré-crise.

 

(aspas)

 

Fonte : Jornal  “Valor Econômico”, edição de 03/11/2009

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