segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Para reduzir perdas, exportador deixa mais receitas no exterior

 

 

 

Com a queda no dólar, os exportadores têm deixado suas receitas fora do país de forma a não perder com as cotações deprimidas. Só trazem os recursos para dentro quando veem alguma alta, mesmo que momentânea, da cotação, ou quando precisam para pagar as contas em reais no mercado interno, como acontece no final do ano. No final de agosto, último dado divulgado pelo Banco Central, a diferença em 12 meses entre o que foi efetivamente exportado e o câmbio contratado para exportação estava em US$ 17,3 bilhões, a mais alta desde abril do passado. Ou seja, as vendas externas foram superiores em US$ 17,3 bilhões aos dólares que entraram no país com origem nas exportações. É um número aproximado do que os exportadores mantém fora do país.

E o que os exportadores têm feito com esse dinheiro lá fora? Em primeiro lugar, pago suas crescentes importações e à vista. Em geral, os grandes exportadores brasileiros também são os que mais importam. "Os importadores estão aproveitando o câmbio baixo para pagar suas compras nos mercados externos e à vista, sem financiamento", diz Marlene Milan, diretora do Departamento de Câmbio do Bradesco. Os mesmos exportadores usam seus recursos que ficam no caixa no exterior para pagar dívidas externas de uma forma geral. O dólar baixo favorece o pagamento, até mesmo antecipado, de dívidas na moeda americana.

Somente em agosto, o câmbio contratado para exportação foi US$ 4,2 bilhões inferior às exportações efetivamente realizadas. O curioso foi o que aconteceu com os importadores, que compraram no mercado interno de câmbio US$ 71 milhões a mais em agosto do que necessitavam para pagar as importações.

Em setembro, essa diferença foi ainda maior: nas três primeiras semanas, segundo os números parciais divulgados pelo Banco Central e pelo Ministério do Desenvolvimento (Mdic), o câmbio contratado para importação superou em US$ 3,9 bilhões as importações efetivamente realizadas. O câmbio contratado para esse fim foi de US$ 13,7 bilhões, enquanto as importações foram de US$ 9,8 bilhões até o dia 24. Os importadores estão aproveitando a queda no dólar americano e comprando com tudo, inclusive para pagar importações já feitas, e, com isso, ajudam o Banco Central e o Tesouro na tarefa de manter o real um pouco menos forte. O saldo do câmbio comercial contratado me setembro até o dia 24 foi negativo em US$ 2,6 bilhões, acumulando um déficit total de US$ 4 bilhões no ano.

No Bradesco, segundo conta Marlene Milan, o câmbio à vista contratado para importação cresceu 40% neste ano, em sintonia com o crescimento real das importações. Já o financiamento para as importações cresceu menos, cerca de 15% no mesmo período, de acordo com a executiva.

Enquanto as importações e o câmbio contratado para este fim tendem a crescer com a proximidade do final de ano, também se observa uma tendência sazonal de os exportadores trazerem mais dólares para o país neste período, de forma a fazer frente a pagamentos de tributos e do décimo terceiro salário em reais. Em setembro, até o dia 24, o total de dólares de exportações que ingressou no país até o dia 24 chegou a US$ 11,12 bilhões, segundo o Banco Central, um número US$ 472 milhões superior aos US$ 10,648 bilhões que foram exportados no período, de acordo com o Ministério do Desenvolvimento.

Segundo os bancos que detém contas dos exportadores no exterior, a maior parte deles mantém o dinheiro no mercado internacional investido em transações de curto prazo, para quitar dívidas que estão vencendo. Muitas empresas usam o caixa no exterior para comprar eurobônus de empresas brasileiras e algumas, mais ousadas, fazem aplicações em reais no mercado externo. Há bancos que oferecem até fundos em reais no exterior para as companhias.

O exportador acaba trazendo para o país o caixa que vai ser usado mais no longo prazo para investir em reais, devido aos juros atraentes. Ele tende, porém, a esperar que o dólar se fortaleça para ganhar mais reais na entrada. Transações com derivativos para proteger as receitas em dólares dos exportadores têm acontecido, mas de forma bem mais rara e sem alavancagem do que em 2007 e 2008.

 

(aspas)

 

Por : Cristiane Perini Lucchesi, de São Paulo, para o Jornal “Valor Econômico”, 01/10/2010

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