Nunca um pedaço tão grande da exportação brasileira esteve nas mãos de tão poucos. De janeiro a abril de 2011, 107 empresas exportaram acima de US$ 100 milhões. Juntas, elas responderam por 68% do valor total dos embarques brasileiros. No mesmo período do ano passado, esse valor de exportação foi alcançado por 81 empresas, responsáveis por 61% do valor total embarcado.
O resultado indica uma concentração na faixa dos maiores exportadores, já que o número total de quem exportou no primeiro quadrimestre caiu de 13.788 no ano passado para 13.612 em 2011. Os dados são do Ministério do Desenvolvimento (Mdic).
"O superávit comercial do país depende de um número cada vez menor de empresas", comenta Fábio Silveira, sócio da RC Consultores. Há cinco anos, no primeiro quadrimestre de 2006, 14.830 fizeram exportações. O número de empresas na faixa dos US$ 100 milhões era de 69, com 52% do valor exportado pelo Brasil. Sílvio Campos Neto, economista da Tendências Consultoria, diz que a maior dependência de um grupo menor de empresas para a exportação é reflexo da concentração da pauta de produtos vendidos ao exterior pelo Brasil.Dados do Mdic mostram que de janeiro a maio de 2011 os básicos representaram 52,1% da exportação total do Brasil. No mesmo período do ano passado, a fatia era de 48,4%. "Há um avanço dos básicos em razão de um ritmo maior da demanda por esse tipo de produto pelos países asiáticos enquanto há um crescimento menor nos países para os quais o Brasil vende produtos manufaturados", diz Campos Neto.
Além da tendência de concentração das exportações em commodities, sejam agrícolas ou metálicas, o que tem intensificado o quadro de concentração é a valorização do real em relação ao dólar, lembra Silveira. Isso, explica, tem afetado mais os fabricantes de produtos manufaturados, com maior densidade tecnológica. "Com o câmbio essa indústria tem sido mais afetada pela perda de rentabilidade para exportar, o que desestimula o fabricante a vender para o exterior." A valorização do real, aponta, acaba tornando-se mais um fator desfavorável ao se juntar a custos que pesam na produção, como mão de obra e carga tributária. Nos produtos básicos, os preços altos, lembra o economista, ainda têm mantido rentabilidade para os exportadores.
"O fator preço está fazendo a diferença", diz José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). Para ele, com a alta de preços de commodities agrícolas e metálicas, aumentou o valor total comercializado no mercado internacional por exportadores desse tipo de produto. Com isso, as empresas que já exportavam acima de US$ 100 milhões passaram a exportar um valor maior. "E as que estavam nas faixas abaixo alcançaram esse patamar maior porque os preços altos elevaram o valor comercializado por elas."
Castro lembra que a concentração das exportações vem se acentuando desde 2005, quando a valorização do real frente ao dólar passou a tirar rentabilidade na exportação de produtos industrializados, provocando tendência de queda no número total de exportadores. Levantamento da AEB mostra que em 2001 o valor embarcado por empresa exportadora era de US$ 3,4 milhões. Em 2005, o valor subiu para US$ 6,7 milhões e no ano passado atingiu US$ 10,4 milhões. Ao mesmo tempo aumentou também a participação das empresas que exportam acima de US$ 100 milhões nos embarques totais do Brasil. No primeiro quadrimestre de 2001 essa faixa de empresas representava 34% do valor total exportado pelo país. Em 2005, a fatia saltou para 46% e no acumulado de janeiro a abril do ano passado, para 61%.
Castro acredita que a tendência de concentração deve se manter no decorrer do ano em razão da alta de preços, que contribui para o avanço dos básicos na exportação brasileira e para o aumento do valor comercializado por exportadores de commodities. Dados do Mdic mostram que os três principais produtos básicos exportados pelo Brasil atualmente - minério de ferro, soja em grão e petróleo - apresentaram aumento de valor embarcado em maio na comparação com o mesmo mês de 2010. A elevação foi puxada principalmente pelo preço. O valor médio diário do petróleo em bruto exportado no período, por exemplo, aumentou 46,8%, resultado de um aumento de preço de 44,2% e de aumento de volume de 1,8%.
(aspas)
Por : Marta Watanabe, de São Paulo, para o Jornal “Valor Econômico”, 02/06/2011
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