sexta-feira, 10 de junho de 2011

Chineses investem em fábricas no Brasil

Cenário: Custos crescentes na China levam grupos a buscar alternativas

Apesar do dólar abaixo de R$ 1,60 e da competição pesada, a chinesa TCL planeja montar uma fábrica de celulares no Brasil. O plano de investimentos e o local ainda estão em fase de estudos.

Com ações na bolsa de Hong Kong e um complexo industrial na cidade de Shenzen, a TCL engrossa a lista das empresas chinesas de tecnologia interessadas em abrir ou ampliar suas fábricas no Brasil.

O anúncio mais ruidoso foi feito pela Foxconn. A companhia de origem taiwanesa - que tem a maior parte de seus negócios na China - vai inaugurar uma linha de montagem para a Apple no Brasil e planeja instalar uma fábrica de painéis de LCD, com investimento de até US$ 12 bilhões.

A ZTE, fabricante de celulares e equipamentos para redes de telecomunicações, planeja investir US$ 200 milhões em Hortolândia (SP). No local, pretende instalar uma fábrica e seu primeiro centro de pesquisas na America Latina.

A Huawei - principal concorrente da ZTE - também revelou que vai investir US$ 350 milhões em um centro de desenvolvimento. Alguns produtos já são feitos no Brasil sob encomenda, mas com o crescimento do mercado a empresa diz estar disposta a "se desenvolver localmente" no longo prazo.

A estabilidade política e econômica do Brasil e a expansão dos mercados de computadores e telefones móveis são as razões mais diretas para o interesse. Mas o reforço nas operações dos chineses também está relacionado ao cenário interno da própria China.

O crescimento do país aumentou o custo de vida e, consequentemente, da mão de obra. Segundo o Departamento de Trabalho dos Estados Unidos, o custo por hora de um empregado chinês mais que dobrou entre 2002 e 2008, para US$ 1,36. O valor é bem menor que os US$ 8,48 do Brasil, mas há sinais de que continuará aumentando.

Em abril, o governo chinês aprovou um plano de ações para aumentar o consumo interno e o padrão de vida do trabalhador nos próximos cinco anos. "O governo percebeu que a riqueza gerada precisa ser distribuída", diz Tang Wei, diretor-geral da Câmara Brasil-China de Desenvolvimento Econômico (CBCDE).

Os custos maiores e a tendência de valorização do yuan levam as empresas chinesas a buscar outros mercados para produzir. O exemplo mais claro é o da Foxconn. Hoje, 86% de sua receita anual, de US$ 100 bilhões, tem origem na China. A empresa tem olhado para outros países para reduzir essa dependência, diz o ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, que tem participado das negociações com a companhia. Procurada, a Foxconn informou que não tinha um porta-voz disponível.

Produzir na China continua sendo mais barato para a TCL, mas a fábrica no Brasil pode facilitar o crescimento local. "A logística é mais fácil e você tem um controle melhor dos estoques", diz Marcus Daniel Machado, executivo-chefe da Alcatel One Touch, subsidiária de telefonia móvel do grupo.

A ZTE também acena com uma nova tentativa de fabricar no Brasil. Na década passada, a empresa anunciou que teria uma linha de montagem no país, mas isso não aconteceu. Posteriormente, fez acordos para produzir seus celulares sob encomenda. Durante a visita da presidente Dilma Rousseff à China, neste ano, a ZTE revelou um novo plano. Procurada, a empresa não se pronunciou até o fechamento desta edição.

O movimento chinês tem sido estimulado por políticas fiscais do governo brasileiro. Na semana passada, foram reduzidos os impostos para a fabricação de tablets. Além da montagem local, a medida faz exigências sobre o uso de componentes fabricados no Brasil. Em 2010, o déficit da balança comercial do setor de tecnologia foi de US$ 18,3 bilhões.

"Queremos trocar os 'xing lings' pelo 'João e pela Maria'", diz Mercadante ao Valor. Segundo ele, novas políticas de nacionalização de componentes estão sendo estudadas para TVs, computadores e celulares. "A indústria automobilística só se instalou no Brasil por conta dos incentivos. Agora, queremos incluir o país no mapa dos semicondutores", afirma o ministro.

Os investimentos produtivos da China no Brasil somaram US$ 19 bilhões no ano passado, segundo levantamento feito pelo Valor. Porém, a maioria dos recursos foi destinada a setores ligados a commodities. O presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Humberto Barbato, comemora os recentes anúncios de investimentos chineses. "Sempre é bom que existam novas empresas. Isso gera concorrência e queda nos preços", diz.

(aspas)

Por : Talita Moreira e Gustavo Brigatto, de São Paulo, Jornal “Valor Econômico”, 08/06/2011

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