terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

MENTIRAS DA ECONOMIA BRASILEIRA

Há coisas que realmente cansam, e o governo continuar iludindo os brasileiros talvez seja o pior. Até os economistas não se cansam de elogiar o governo. Parece que o tapa-olho dos brasileiros é infinitamente maior do que o necessário. Cobre a cabeça toda. O que surpreende é a classe mais esclarecida estar no mesmo barco.

Neste momento, estão todos enlevados com o fato do Brasil ser credor internacional. Ou todos querem se enganar, ou parece que os conhecimentos econômicos desapareceram desta terra de Colombo. Êta hino hipnotizante esse que nos mantém deitados em berço esplêndido. Ou enxergamos demais, ou somos mais cegos que os outros, mas acreditamos que não é este o caso.

Temos quase 190 bilhões de dólares norte-americanos de reservas, e devemos 4 bilhões menos. Ok, tudo bem, somos credores. Mas, por que mantemos os créditos que rendem juros “x” e continuamos com a dívida, que é sempre cobrada pelo “x” mais um spread? Ou seja, somos credores e jogamos dinheiro fora. Falta explicação.

Por outro lado, para termos toda esta absurda quantidade de divisas em moeda forte, emitimos títulos da dívida pública, que pagam mais de 11%, para comprá-las. E enquanto pagamos tudo isso de juros no país, nossas divisas rendem menos da metade disso aplicadas lá fora, ou seja, continuamos jogando dinheiro fora. Com isso, o Banco Central tem prejuízos mastodônticos. Parece que não há qualquer carência no país para aproveitar esse desperdício.

Enquanto somos credores internacionais, pagamos pela nossa dívida interna de 1,2 trilhão de reais, cerca de 170 bilhões de reais aos detentores desta dívida. E assim, os bancos batem recordes astronômicos de lucros há 5 anos. Que coincidência! Nunca antes neste pais.

Enquanto pagamos este montante de juros, o que o governo investe na economia por ano é equivalente a 17 bilhões de reais. Sim, apenas 10% do que paga em juros. Sim, para eles, os do andar de cobertura.

A obsessão pelo investment grade está beirando as raias da loucura. Para que queremos isso? Para termos investimento estrangeiro? Ora, ora, mas não os temos aos borbotões? Não estamos tendo superávits de caixa?

Obter o investment grade no atual momento fará com que mais dólares entrem no país, que já os tem sobrando. É só ver o que está acontecendo com a taxa do dólar, por volta de R$ 1,70, por enquanto. Para que o queremos mais baixo? Para destroçarmos o comércio exterior e a economia?

É o que o investment grade fará. Muito mais dólares entrarão no país e a taxa do dólar despencará de vez. Para que não é letrado na matéria, explicamos. A moeda é uma mercadoria, é como alface, é vendida e comprada no mercado continuamente. Não é possível pensar uma fração de segundo sem uma transação da moeda.

O preço de uma moeda varia por dois motivos básicos. Um é a instabilidade econômica, que não é o caso agora, mas lembramo-nos da eleição presidencial de 2002. Outro é a lei da oferta e demanda, absolutamente inegociável. Ela não abre exceção, e age de uma forma ou outra. Se falta moeda o seu preço sobe, se sobra ele desce, e é isso que está acontecendo nos últimos anos.

O superávit comercial é excessivo para o tamanho do nosso comércio exterior, com poucas importações para modernização da nosso parque produtivo. Então sobra muita moeda. O volume de investimento que recebemos é grande, e ajuda na sobra de moeda. Nossa absurda taxa de juros, ainda a mais alta do mundo, traz indesejáveis recursos especulativos, fazendo sobrar mais moeda.

O resultado final só pode ser uma depreciação da moeda estrangeira, supervalorizando artificialmente o Real. É como o alface, se sobrar o preço cai, se faltar o preço sobe. Qualquer chuva, geada, seca, faz estragos para um lado ou outro. Tudo que mencionamos são as geadas, chuvas e secas da moeda.

Assim, não é difícil ver que o exagero do tapa-olho, e sabe-se lá que motivos estão levando todos a isso.

Acorda Brasil, expressão que vimos repetindo incessantemente, mas nunca demais.

Samir Keedi
Economista, Professor e escritor, com vários livros publicados.
e-mail: samir@aduaneiras.com.br

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