quinta-feira, 18 de outubro de 2007

AVIÃO: TRANSPORTE DO FUTURO


Desde 1997 vimos defendendo uma idéia que à época parecia um non-sense a todos, menos a nós, sozinhos na arena com os leões marinhos, que é o modo aéreo como o futuro do transporte.

Embora isolados nessa defesa intransigente do transporte aéreo como aquele modo que mais cresceria, relativamente, nas décadas seguintes, não abandonamos a idéia que parecia absolutamente lógica. E, a partir de 1999, começamos a verificar que estávamos no caminho certo. E era o tipo do desafio ótimo a encarar e desenvolver. De tal forma que continuamos insistindo na idéia, que virou um capítulo do nosso livro Logística de Transporte Internacional, hoje na 3ª edição e mantendo o capítulo cada vez mais como uma certeza viva. E que ensinamos em cada uma das nossas aulas de transporte.

Aqueles que acreditavam que o avião jamais colocaria o navio em cheque, e que estão acompanhando o que vem ocorrendo, talvez possam estar pensando, ou deveriam, nesse transporte.

Devemos aproveitar para reiterar que não somos contra o marítimo, muito pelo contrário, praticamente tudo que fazemos e escrevemos gira em torno desse modo de transporte, o mais tradicional para o tráfego internacional, desde os primórdios da humanidade.

A questão é que o homo sapiens procura cada vez mais eliminar estoques, seja através da produção como da entrega imediata para consumo. Na produção isso já é muito usado há décadas, de tal forma que muitas empresas nem mantém estoque de matéria-prima, num risco calculado, e nem estoca produto acabado. Da mesma forma isso ocorre no destino final, em que a mercadoria é recebida para venda de poucos dias ou horas.

Mas, e o meio? E o transporte e turismo da carga? E o custo financeiro envolvido? Isso está custando, e muito.

Existem, segundo se sabe, cerca de 30.000 navios no mundo, de todos os tamanhos e tipos, e pode-se imaginar o estoque portuário e marítimo que se mantém. Com uma comércio mundial anual de 22 trilhões de dólares, falamos em cerca de 60 bilhões de dólares/dia. Numa viagem média de 30 dias calcule-se o valor parado.

O avião pode ser a forma de se extinguir este desperdício, com redução do preço final da mercadoria. Quanto ao frete aéreo, hoje considerado caro, deve seguir a mesma tendência do transporte marítimo. Quem, como nós, está na área há três ou quatro décadas, sabe bem o que ocorreu com os fretes marítimos ao longo do tempo, com o crescimento dos navios. Uma redução drástica.

O mesmo deve ocorrer com os aviões, conforme seu crescimento. Tanto com a economia de escala na construção do avião, quanto com a maior quantidade de carga.

Desde nosso primeiro pensamento, estamos imaginando aviões com 2.000 ou 3.000 toneladas de capacidade de carga, o que não é impossível. Ainda durante a segunda guerra mundial, transportavam cerca de duas toneladas, e na década de 80 o Boeing 747 veio com capacidade para 100 toneladas. Afora os Antonov AN124 para 140 tons e o AN225 Mria para 250 tons, já existentes há décadas. E hoje já temos o Airbus A380 para 150/160 tons de capacidade de carga, não existente à época de nosso primeiro artigo. Os aviões estão crescendo.

Quanto a dois mitos que existem no mercado, e que estamos tentando quebrar, que é capacidade de carga e o frete comparativos entre avião e navio, temos o seguinte:

O espaço do avião será sempre estaticamente menor, porém, na rotatividade a diferença pode ser compensada, pois, enquanto um navio faz uma viagem redonda, um avião pode fazer dezenas de viagens, reduzindo a diferença ou até passando-o se ele tiver o navio mencionado.

Quanto ao mito do frete, temos a dizer que nunca se deve comparar frete com frete de cada modal, mas custo com custo, de ponta a ponta. Isso quer dizer que, os aeroportos em geral são mais pertos, as embalagens podem ser diferentes, o seguro aéreo é, em geral, mais barato. Temos também a questão dos estoques e turismo da carga no mar, etc. tudo somado, pode-se ter alguma surpresa agradável.

Afora o uso logístico do avião como, por exemplo, realizado por uma empresa gaúcha em 2002, que enviou 37 caminhões, montados, ao Equador, sem onerar o frete, apenas combinando um frete de retorno com a empresa aérea que trouxe carga regular da Europa e voltaria com o avião vazio a partir de Curitiba. Um negócio ganha-ganha, em que os veículos foram transportados em menos de 4 horas, contra 45 dias de navio. Não há competidor que vença uma concorrência em outro país com o seu concorrente agindo assim. E a motivação era justamente a concorrência no país vizinho, com a utilização inteligente da logística.

E, estamos nos referindo a velocidades de cruzeiro de 800 quilômetros/hora. Imagine-se com velocidades maiores, como 2 mach já usado pelo Concorde há mais de 30 anos, de 2.400 quilômetros. E a velocidade dos foguetes? Os Australianos, desde 2001, já testam velocidades de 8 mach, com perspectiva de uma viagem são Paulo a Tóquio em três horas apenas. Basta que os aviões comportem, com a carga, toda essa tecnologia, que é justamente o que ocorreu com os navios nas duas últimas décadas. E que ocorre amiúde com os carros de passeio através do laboratório Fórmula 1.

Com tudo isso, pergunta-se, para que precisaremos do navio? Naturalmente, devemos fazer uma ressalva, que é o transporte de carga geral ou equivalente. Para a carga granel, obviamente, o avião jamais será o seu transporte.

Samir Keedi,
Professor de MBA/pós-graduação e técnico, e autor, entre outros, do livro “Logística, transporte, comércio exterior e economia em conta gotas” e tradutor oficial para o Brasil do “Incoterms 2000”.
e-mail: samir@aduaneiras.com.br

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