Enfim, a hora do dólar subir
Samir Keedi
O mercado tem um excesso maléfico de dólares. Entre as causas estão os altos superávits da balança comercial.
Esta nossa afirmação pode parecer estranha, em especial em face do preço do dólar estar baixo já há bastante tempo, e não parecer querer reagir. A razão pela qual não reage é fartamente conhecida, e já colocada por nós diversas vezes. A moeda é uma mercadoria e, como tal, tem preço. E, como tem preço, depende da oferta e da demanda. O que quer dizer que, se sobrar moeda, seu preço desce, e se faltar, ele sobe. Não tem segredo, pelo menos àqueles que resolverem pensar um pouco, artigo cada vez mais relativamente raro.
E o que tem ocorrido há bastante tempo, é que o mercado tem um excesso maléfico de dólar. E isso é causado por vários motivos, entre os quais os altos e inconvenientes superávits da balança comercial brasileira. Nada contra os superávits, ao contrário, sempre bem-vindos, mas coerentes com o comércio exterior, o que não tem ocorrido.
Também a farta entrada de dólares para especulação em face da mais alta taxa de juros do planeta, ocasiona sobra de moeda. Sem contar o grande fluxo de moeda estrangeira para investimentos no país. Só que neste ano de 2008 as coisas parecem querer mudar, e de forma significativa. Como já se pode perceber, o crescimento menor dos Estados Unidos - não deverá haver recessão mas retração nas taxas de crescimento - afetará nossa economia. A despeito de nossos governantes alardearem que temos uma economia sólida e com bons fundamentos, o que já mostramos não ser verdade. E, também, que a crise norte-americana "não cruzará o Atlântico" (sic) para nos atingir .
Estamos no momento da verdade em nossa economia, para testarmos nosso mercado interno e externo. Quanto ao externo, parece que o teste está flagrante, e o nosso superávit deverá ficar entre 10 e 20 bilhões de dólares neste ano, a despeito do governo falar em 30 bilhões. Isso ocorrerá basicamente pelo crescimento das importações, que estão aproveitando o baixo valor do dólar norte-americano, que barateia muito os produtos estrangeiros trazidos ao país.
Pelo menos, estamos fazendo agora o que já deveria estar sendo feito há anos, que é a redução do superávit em favor da modernização da nossa indústria. Entendemos que para um país que exporta o que exportamos, pouco mais de 1% das vendas mundiais, um superávit acima de 20 bilhões de dólares é um superávit inadequado. O pior é que com o dólar muito baixo voltamos a ter alguns déficits, vide como exemplo o setor têxtil, cuja indústria havia se recuperado da debacle dos anos 90, e vinha tendo superávits expressivos. Está mais barato importar que produzir internamente.
Temos um outro problema que é o envio de lucros ao exterior, que também está em crescimento, tanto em face dos lucros no mercado interno, quanto a, talvez, preocupação com a economia. Isso deverá gerar, já admitido pelo governo, a volta dos déficits nas transações correntes, com a conseqüente falta da moeda estrangeira.
Como dissemos acima, sendo a moeda uma mercadoria, a sua falta provocará, inevitavelmente, e finalmente, um reposicionamento do preço do dólar, caminhando para um valor mais apropriado, provavelmente, em nossa modesta opinião, por volta de R$ 2,70 / 2,80 por dólar.
Como dissemos, não é mágica, é economia, queiram ou não os descrentes ou aqueles não iniciados na matéria. O perigo disso é o retorno da inflação, hoje contido pelo dólar defasado, o que parece não ser um caminho tão espinhoso e difícil de ser "alcançado" com a errante política econômica do governo.
E, para isso, entre tantos erros que vêm sendo cometidos, podemos citar os financiamentos de veículos que não estão longe de alcançar uma década. O Brasil poderá, sem muito esforço, enfrentar na questão dos carros, o mesmíssimo problema que os EUA estão enfrentando com relação à questão imobiliária.
Com esses financiamentos de longo prazo, cujo parâmetro para compra é apenas o fato de a prestação caber no bolso do orçamento mensal, estamos criando uma bolha perigosa. Muitos consumidores estão comprando um veículo que não poderiam adquirir, esquecendo-se de que existe muito mais do que a prestação, como o IPVA, seguro, combustível, óleo, filtros, manutenção geral, etc. Inclusive a depreciação, gerando perda financeira, e agravada pelos altos juros pagos, realizando transferência de renda da população para os bancos. Em pouco tempo poderemos ter inadimplência no setor e devolução de automóveis financiados.
Além do que, via juros, empobrecendo o consumidor que não tem condições de saber o que realmente eles representam. Que não sabe que uma taxa de juros de 1% em financiamento de veículos significa, em realidade, 2% reais. E 2% ao mês, significa quase 27% ao ano, e não 24% como é a crença e desconhecimento geral.
Abraham Lincoln: Pode-se enganar todo mundo algum tempo e certas pessoas durante o tempo todo, mas não se pode enganar todo mundo o tempo todo.
Não há milagres na economia. O mercado tem um excesso maléfico de dólares.
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