O aumento do comércio internacional está pressionando a oferta de transporte marítimo no mercado. Muitas empresas começam a enfrentar uma espécie de “overbooking” da navegação mundial e, mesmo com a contratação antecipada, não conseguem contêineres e espaço nos navios e precisam esperar um novo agendamento das embarcações. Com o atual cenário, o frete disparou, há cobrança de prêmios e aumento de custos.
A BS Colway, que importa 80 mil pneus por mês da China, registra atrasos de cerca de 30 dias na chegada das mercadorias, segundo seu diretor de assuntos corporativos, Ozil Coelho Neto. A situação, contudo, deve piorar até o fim do ano, com o aumento das importações para o Natal. ?Hoje a China faz o Natal do mundo e a procura por navios para trazer mercadorias de lá aumenta muito. Tivemos que replanejar nossa logística.?
Oferta não acompanha demanda
O rápido crescimento do mercado internacional não tem sido acompanhado pelo aumento da frota de navios e contêineres. Segundo a Câmara Brasileira de Contêineres, Transporte Ferroviário e Multimodal (CBC), o número no mercado mundial é estimado em 20 milhões e o índice de ocupação hoje é muito próximo de 100%. A China é praticamente o único fabricante, com uma produção de 240 mil contêineres por mês. ?Para piorar a situação, os chineses interromperam a produção durante os Jogos Olímpicos?, conta Silvio Campos, presidente da CBC.
De acordo com o gerente da Hamburg Süd para o Paraná e Santa Catarina, Wilson Roque, a demanda por contêineres tem dobrado a cada sete anos. ?No Sul e no Sudeste do Brasil, ela dobra a cada cinco anos?, afirma.
O armador, que controla a Aliança Navegação, opera 117 navios full contêiner na costa do Brasil e tem uma encomenda para a construção de mais 35 até 2011. ?O que está ocorrendo é um avanço na capacidade de carga dos navios. Essa nova geração terá capacidade para 7 mil contêineres, contra 3,5 mil das versões anteriores?, diz.
Para o vice-presidente da entidade da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, a tendência é que a desaceleração da economia global aos poucos alivie a pressão no transporte de mercadorias ao redor do mundo. Mas esse ano ainda será de demanda aquecida. A previsão da AEB é que as exportações brasileiras cresçam 22,5% em relação ao ano passado, para US$ 196,7 bilhões. As importações devem somar US$ 173,6 bilhões, um avanço de 43,9% na mesma base de comparação. (CR)
Segundo ele, o frete marítimo já subiu 13% nos últimos 60 dias e alguns armadores já começaram a praticar sobrepreço -- em torno de 5%. ?Somos obrigados a adiar um mês de faturamento (de R$ 8 milhões) por conta desse problema.?
As dificuldades são confirmadas pelos armadores. ?Quem quiser contratar navios da Ásia para o Brasil vai ter dificuldades. O tempo de espera chega a três semanas?, afirma Wilson Roque, gerente para o Paraná e Santa Catarina da Hamburg Süd, que controla a Aliança Navegação.
Com a China puxando as rotas, começa a faltar navios e contêineres em outras partes do mundo, como nos Estados Unidos e na Europa. Por conta do overbooking, a norte-americana Interface Flor, fabricante de carpetes em placas, está sofrendo para importar produtos da matriz para o Brasil.
Em função de falta de espaço nas embarcações, uma carga de 12 contêineres -- que equivalem a 70% da sua importação mensal -- prevista inicialmente para chegar ao Brasil em 15 de agosto, só deve desembarcar em solo brasileiro em 11 ou 12 de setembro. ?Já tivemos um prejuízo de US$ 800 mil e cinco contratos cancelados?, conta Roberto De Donato, gerente comercial da Interface Flor no Brasil. De acordo com ele, a matriz vem tentando negociar com as companhias marítimas maior velocidade nas entregas para evitar mais prejuízos. Mas os armadores já informaram que o problema pode voltar a ocorrer até o fim do ano.
A empresa importa entre 40 mil e 45 mil metros quadrados por mês de carpetes dos EUA e o aumento da procura provocou reajuste no frete, que, desde março, subiu entre 25% e 30%.
Outra empresa que enfrentou o problema foi a importadora Porto a Porto, que há dois meses sofreu com o overbooking na importação da França, conta Patricia Almeida, gerente de comércio exterior. Uma carga de 10 contêineres de vinhos e chocolates -- a média de importação é de 30 contêineres por mês -- encomendada para ao Natal, teve que esperar de três a quatro semanas.
Para os armadores, além do crescimento da demanda, o problema no Brasil é mais grave do que em outras partes do mundo por conta dos gargalos de infra-estrutura portuária e das greves seqüenciais, que elevaram o tempo de espera de navios e provocaram cancelamento de escalas. A Hamburg Süd cancelou, de janeiro a agosto desse ano, 150 escalas na costa leste da América do Sul.
Segundo o gerente regional para o Paraná e Santa Catarina, Wilson Roque, os navios da empresa já tiveram que aguardar, nesse ano, 8 mil horas nos portos para iniciar operações, em função de problemas de calado, clima (com formação de nevoeiro) e greves.Para seguir a programação e evitar atrasos, muitos navios optam por seguir para outros portos, o que gera um efeito em cadeia. A carga que ia embarcar fica no porto e o produto importado fica no navio. Quando essa embarcação chegar ao outro porto, terá menos espaço e não vai conseguir atender a demanda.
Fonte : Jornal “Gazeta do Povo”, Curitiba,Paraná (Cristina Rios), edição de 09/09/2008
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