quarta-feira, 11 de julho de 2012

Lenovo vai construir fábrica no Brasil


A companhia chinesa Lenovo, segunda maior fabricante de computadores do mundo, atrás apenas da Hewlett-Packard (HP), pretende investir US$ 30 milhões para construir uma fábrica no Brasil. Com a unidade, que está sendo instalada em um condomínio empresarial de 50 mil m2 na cidade de Itu (SP), a Lenovo passará a produzir seus equipamentos no país, substituindo os acordos de manufatura terceirizada mantidos com a Flextronics e a Compal, especializadas na fabricação de eletrônicos sob encomenda.

No mesmo local será instalado um centro de distribuição e o estoque de componentes da companhia. A previsão é que a fábrica da Lenovo entre em operação em janeiro. Em dois anos, a unidade pode chegar a 700 funcionários diretos, além de dois mil indiretos.

Ao trazer a produção "para dentro de casa", a companhia pretende aumentar a velocidade de entrega dos produtos aos clientes e elevar o número de modelos disponíveis no país. O objetivo é preencher lacunas em sua oferta e ter máquinas que atendam a vários perfis de consumo - de equipamentos avançados para empresas até PCs com preços acessíveis para o varejo.

Com isso, a Lenovo pretende aumentar seu volume de vendas e chegar à liderança do mercado brasileiro de computadores. Hoje, a Lenovo ocupa a sétima colocação, informou a empresa, atribuindo o dado à consultoria IDC. "O Brasil é o único país do Bric [o bloco de países formado por Brasil, Rússia, Índia e China] onde ainda não ocupamos essa colocação. E nós vamos atingi-la", disse ao Valor, por telefone, Dan Stone, executivo israelense que assumiu o comando da filial brasileira da Lenovo no começo da semana.

Stone substituiu o chinês Xia Li, que ficou dois anos no cargo. Aos 36 anos, Stone chegou à Lenovo em 2007. Desde o início de 2011, era o principal responsável pela definição da estratégia global da fabricante. Segundo ele, essa experiência será um componente importante nos planos de expansão da companhia. "Por conhecer bem a empresa e seus principais executivos, posso ter um papel importante na definição dos investimentos", disse o executivo. De acordo com Stone, a estratégia para o Brasil tem um horizonte de dois a três anos para ser executada.

A expansão no Brasil é um plano antigo da Lenovo. Em 2008, a companhia chegou a fazer uma oferta pela brasileira Positivo, maior fabricante nacional de PCs, com forte presença no varejo e na área governamental. O negócio não foi concluído, mas posteriormente surgiram vários rumores de que estaria novamente em pauta. Stone não quis comentar sobre a estratégia de aquisições da Lenovo.

O interesse no país está relacionado ao rápido crescimento do mercado de PCs. O Brasil é hoje o terceiro maior mercado de computadores do mundo, atrás da China e dos Estados Unidos. A estimativa da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP) é que o número de máquinas em funcionamento no país atinja a proporção de uma por habitante em 2017. Atualmente, é de um PC para dois habitantes. Os principais competidores são Positivo, HP e Samsung.

De acordo com Ricardo Pagani, diretor responsável pela cadeia de suprimentos da Lenovo, a fabricação própria terá impacto mais forte na operação a partir de 2013. Antes do início da produção, porém, a companhia já pretende aumentar a linha de produtos vendidos no Brasil.

A Lenovo também tem planos para investir em pesquisa em desenvolvimento no Brasil. O investimento é uma exigência do Processo Produtivo Básico (PPB), do governo federal, que concede benefícios fiscais às empresas que fabricam seus produtos no país. De acordo com Alfredo Nicolau Y Benito, diretor financeiro da Lenovo, a meta é aplicar pelo menos US$ 150 milhões em pesquisa em um período de cinco anos. Os recursos serão usados na adaptação de modelos existentes, criação de equipamentos que atendam às necessidades específicas do mercado brasileiro e participação do país em projetos globais da companhia.

Apesar do foco inicial em computadores, a fábrica brasileira da Lenovo pode diversificar suas operações em pouco tempo. No médio prazo, a ideia é usar a unidade para montar produtos como tablets, smartphones e até aparelhos de TV. A expansão para novos setores faz parte da estratégia definida pela companhia como "defender e atacar". O plano, do qual Stone participou tanto na elaboração como na adoção, prevê investimentos para proteger o desempenho da companhia no mercado de PCs, enquanto a Lenovo se expande para outras áreas - na China, a companhia lançou até um console de videogame.

Em entrevista ao Valor no início do ano, o executivo-chefe da companhia, Yang Yuanqing, justificou a abordagem. "As pessoas têm necessidades específicas, mas se tiverem dinheiro suficiente, vão querer comprar todo tipo de equipamento, ou mais de um", disse.

A Lenovo, como é conhecida hoje, começou a ganhar forma em 2005, quando a chinesa Legend comprou a unidade de PCs da IBM, por US$ 1,75 bilhão. Rebatizada de Lenovo, a empresa assumiu a quarta posição no ranking mundial de fabricantes de computadores, que pertencia à IBM. Desde então, galgou posições e assumiu a segunda colocação. De acordo com a empresa de pesquisa Gartner, no primeiro trimestre de 2012 a fabricante detinha 13,1% do mercado global. A HP é a líder, com 17,2%. No ano fiscal 2012, encerrado em maio, a Lenovo registrou uma receita global de US$ 29,6 bilhões, com alta de 37% em 12 meses.



(aspas)



Fonte : Jornal “Valor Econômico” 05/07/2012

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