COMÉRCIO EXTERIOR
Brasil já faz mais negócios com emergentes do que com ricos
Por Samir Keedi
SÃO PAULO - A corrente comercial entre o Brasil e os países em desenvolvimento superou, no primeiro semestre, as transações com as nações mais ricas, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic). Os emergentes somaram US$ 85,4 bilhões entre ações de importação e exportação contra US$ 82,2 bilhões dos desenvolvidos. Já no mesmo período do ano passado a movimentação foi bem diferente, sendo superior para os países ricos que somaram US$ 64,2 bilhões, contra US$ 59,8 bilhões dos mais pobres.
Analistas consultados pelo DCI apontaram a desaceleração do crescimento da economia e a crise nos Estados Unidos como fatores significativos para a mudança do quadro comercial. O professor da Aduaneiras, escritor e consultor em comércio exterior, Samir Keedi, destaca que o crescimento dos emergentes está mais saliente do que em outras nações, contribuindo para essa inversão.
Uma prova disso está na estimativa de crescimento mundial divulgada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Segundo a projeção, o avanço na zona do euro será de 1,7% em 2008 e 1,2% em 2009, ante 2,6% em 2007. As economias avançadas, como um todo, devem crescer 1,7% e 1,4%, respectivamente, em 2008 e 2009, ante 2,7% de 2007, segundo o documento Perspectiva Econômica Mundial (WEO, na sigla em inglês). Já as economias emergentes vão registrar uma desaceleração de seu crescimento para 6,9% em 2008 e 6,7% em 2009, ante o ritmo de 8% de 2007. A China deve crescer 9,7% em 2008; a Índia deve avançar 8% e a Rússia 7,7% .
O FMI vê ainda o ritmo de expansão da economia mundial desacelerando para 4,1% em 2008 e para 3,9% em 2009. "Essa mudança vai ocorrer nos próximos anos, temporariamente, e os países em desenvolvimento terão uma importância maior. Até porque a desaceleração dos EUA vai afetar o mundo todo", informa Keedi. Na visão do especialista, a diversificação da pauta de exportações, realizada pelo governo federal, também levou a esse quadro. "Antes do atual governo assumir, os EUA representavam um quarto das exportações. Daí começou uma pauta de diversificação. Vejo uma discriminação com os Estados Unidos que fez reduzir o avanço do comércio com a região", afirma.
Produtos
O estudioso destaca, ainda, que a "China se tornou o segundo parceiro do País e isso também é uma das razões para esse aumento comercial. Isso porque os asiáticos compram muita soja e mineiro de ferro do Brasil. O último, inclusive, teve um aumento de preço de quase 70% no ano", descreve.
Para finalizar, Keedi salienta que a balança comercial só está favorável por razão do elevado preço das commodities. "Se não fosse os altos preços, estaríamos num cenário negro", encerra.
Na opinião do professor de Economia e Mercado Financeiro da Trevisan Escola de Negócios, Alcides Leite, a principal razão dessa relevância dos países em desenvolvimento, além do crescimento, se deve a dois tipos de produtos. "As commodities agrícolas e os minerais. Nos países em desenvolvimento tem crescido muito o consumo dessas commodities", informa.
Segundo o acadêmico, a China, a Índia e a Rússia têm comprado cada vez mais produtos, que podem ser exemplificados pela soja, pelo minério de ferro e pela pecuária. "Tem crescido também a exportação de produtos semimanufaturados, além de manufaturados como aviões", informa Leite.
Alcides também acrescenta que o Brasil diversificou geograficamente o foco de suas exportações, criando uma alternativa aos países ricos que reduziram suas importações. "É bom porque o Brasil não fica tão dependente. Vemos que houve uma elevação do preço e do volume na comercialização desses produtos, sem falar no aumento das importações oriundas da China", conclui o professor da Trevisan.
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